O cantor Nick Cruz deixou o ‘Estrela da Casa‘ na noite desta última terça-feira, 17 de setembro, e já revelou em entrevista, após deixar a competição da TV Globo, que tem a sensação de objetivo alcançado ao olhar para trás.
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“Eu acredito que o que eu conquistei lá dentro não se paga, sabe? Com valor nenhum“, declara ele ao lembrar de que um de seus propósitos era o de evoluir como artista. Dentre os participantes, foi o que mais venceu dinâmicas de workshop, viveu a experiência de se tornar um ‘Dono do Palco’, dividiu com os colegas suas percepções e estratégias de jogo e, sobretudo, acredita que absorveu muito das oportunidades de aprendizado em todo esse tempo. Agora, ele quer montar o próprio show e lançar um EP.
Confira a entrevista com Nick Cruz
De tudo o que você viveu no ‘Estrela da Casa’, quais aprendizados você vai levar para a sua vida e carreira? É difícil destacar porque são muitos aprendizados, não só como pessoa, mas como artista. A gente recebe vários profissionais que cuidam de artistas gigantes, nas oficinas. Tem os workshops, em que a gente tem que desenvolver toda uma estratégia de composição, então mexe com o tempo, com a questão da produção. Mas eu acredito que teve uma mudança muito visível da minha primeira apresentação para a segunda, do Dono do Palco para a que eu fiz na Batalha. A mudança nítida foi depois da oficina de direção de movimento com o Bibiu, que é um cara incrível. Eu acho que era o que eu mais estava precisando trabalhar, e é o que eu mais quero trabalhar também fora aqui, que é saber lidar com o palco, me posicionar bem, quebrar essa barreira. Foi, com certeza, um pilar muito importante lá dentro, que eu trouxe para fora.
Qual era seu principal objetivo, musicalmente falando, ao entrar no ‘Estrela da Casa’? Eu tinha vários objetivos. Queria me superar, eu entrei com muitas metas, inclusive metas que eu também não conseguia alcançar porque lá dentro é outra realidade. Mas meu principal objetivo era evoluir muito como artista e acredito que alcancei demais. Também queria ganhar o prêmio, porque a gente quer ganhar o prêmio, quer chegar na final, quer ajudar a nossa família, quer mudar a nossa realidade, né? Mas eu acredito que o que eu conquistei lá dentro não se paga, sabe? Com valor nenhum.
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Logo no primeiro dia de programa você conversou com os seus colegas de confinamento sobre ser um homem trans. Dentro do reality, trazer essa representatividade foi importante para você? Eu quis falar porque todo mundo estava no momento de se apresentar, eu uso fita, uma hora eu ia tirar a camisa, as pessoas iam ficar me perguntando. É uma coisa que eu sou muito de boa para explicar. Eu tenho o maior prazer de ser didático com as pessoas, quero que elas conheçam a causa da melhor forma. Então decidi falar porque me tocou na hora. A gente estava falando sobre trajetória, eu estava falando da minha vida, e eu acho que as pessoas não esperavam que eu fosse falar que trabalhava na área da construção civil, com obra, empreiteira, e depois falar que eu era um homem trans. Foi do meu coração. Eu quis segurar um pouco mais, mas não deu, a emoção tomou conta. E a importância que isso tem para mim é que, de fato, ainda não existe um homem trans ocupando um lugar de ascensão na música, num auge. Eu sou muito feliz, muito grato, pelas nossas mulheres trans que hoje ocupam esse lugar enorme, que pertencem a essa classe que nos representa não só na música, mas na política. Mas eu quero mostrar e ser o primeiro a chegar num lugar de mainstream como homem trans, como artista. Mostrar que a galera é capaz também de chegar, porque eu conheço vários homens trans que cantam, mas nenhum ainda nesse lugar de mainstream. Seria muito importante para mim poder chegar lá, porque eu trabalhei muito duro, minha vida inteira, para estar nesse lugar.
Como foi enfrentar a Leidy Murilho e o Matheus Torres na Batalha? Foi muito difícil, mas ao mesmo tempo eu já imaginava o resultado. Cheguei a afirmar várias vezes, brincando, que eu ia sair, “mas deu tempo de cuidar do meu cabelo e vou sair bonito” (risos). Meu feeling de jogo era bom. Não consigo fechar os meus olhos e tapar meus ouvidos para aquilo que tá acontecendo. Foi muito difícil porque eu sabia que a Leidy tinha um lugar muito especial ali dentro, como pessoa, buscando evoluir. Acho que por ser uma mulher madura, com mais tempo de caminhada, ela conseguiu chegar num ponto de paz ali que é muito importante a gente ter. Eu mesmo conversei com ela, e ela sabe se expressar muito melhor; eu ainda sou um garoto. E o Matheus é um cara maravilhoso, super didático, é uma enciclopédia ambulante. E é lindo também, fez o casal “Maunna”. Eu sempre bati nessa tecla de que ir para a Batalha com o casal ia ser pesado, porque são duas torcidas, né? E a Leidy, ela construiu esse casal. Logo, a torcida deles, na minha cabeça, também está com ela.
Você é o participante que mais venceu Workshops. Com exceção do último, o de Paródias, você esteve em todos os grupos vencedores. Qual deles foi o mais marcante? Olha, todos foram marcantes. Ganhar é bizarro não pelo lance de ganhar, mas de poder participar da Prova da Estrela e ter a chance de ficar mais no programa. É um mix, são muitas coisas em jogo, é poder, inclusive, movimentar o jogo. Mas o que mais me marcou, com certeza, foi o workshop de construir a harmonia da música para o casal Thaís Araújo e Lázaro Ramos, que são dois artistas que eu cresci assistindo e tenho uma admiração gigantesca. A Katy Perry vai lá na casa hoje, mas eu acho que eu não ficaria tão impactado quanto quando vi o Lázaro Ramos e a Thaís Araújo, porque é um casal icônico no Brasil. São artistas, na minha cabeça, praticamente inalcançáveis no patamar de talento, de sabedoria, de brilho. Então esse foi para mim o workshop mais emocionante de todos. Inclusive guardei a paleta que eu usei no dia (risos). E trazendo a oficina de talentos, o Vinicius Poeta confirmou algo para mim que foi especial. Foi a oficina em que eu consegui ganhar o leilão. Fui lá trocar uma ideia com ele e ele me confirmou muitas coisas que eu precisava ouvir sobre acreditar na minha música, no meu processo. Ele me marcou muito e eu tenho muita vontade de trabalhar com ele futuramente.
A convivência com pessoas tão diferentes foi um desafio? O mais complicado para mim, na real, na questão da convivência, foi conviver comigo mesmo. Eu nunca tinha passado por esse momento. Sempre fui um cara muito ocupado, sempre trabalhei muito, sempre ocupei muito a minha cabeça. Sou muito introspectivo, mas eu não sou muito de ficar parado. E lá a gente é obrigado a ficar parado, convivendo com pessoas que são muito diferentes, de outras culturas, com outras manias. Eu sou mais organizado, eu gosto de acordar, arrumar minha cama, de varrer o quarto, eu gosto de lavar o banheiro, gosto de fazer uma comida limpa, deixar tudo limpo. E ali você tá com pessoas que, às vezes, têm 25 anos, 30 anos, e ainda não sabem fazer um arroz, não lava uma vasilha. Então tem essa questão, mas a parte de lidar comigo mesmo foi, de longe, a mais difícil.
Com qual artista faria um feat, se pudesse escolher? Eu gostaria muito de fazer um feat com a Anitta. Ela é uma referência muito forte para mim. Não é todo artista que tem o objetivo de alcançar o mainstream da forma que ela alcançou, fora do país e tudo mais. Mas eu gostaria de ter metade da coragem da Anitta para encarar tudo o necessário. Eu me identifico com o lance de ela ser mulher no mercado machista e tudo que passou por isso. Eu, por ser um homem trans, vivo o lado de colocarem em questionamento a minha masculinidade o tempo inteiro. A Anitta, de longe, é a principal artista com quem eu gostaria muito de fazer um feat. E ela é gigante, tenho muito a aprender com ela. Faria feat com a Glória Groove também, com certeza, Liniker, quem quiser (risos), mas a Anitta eu acho que é a top 1.
E com os colegas de programa, gostaria de gravar com algum deles? Ah, eu faria feat com todo mundo. Mas eu sou um cara meio rancoroso, sabe? E eu acho que eu guardei uma coisa não muito boa do Lucca. Ainda tentei me entregar de alguma forma, reatar a nossa parada, fiz uma rima para ele lá na cozinha. Mas ele é um cara que ele dá um sorrisinho, chega, se aproxima, e depois fecha a porta. E esse é um negócio que me pega muito, porque eu sou muito transparente. Eu até falei com ele que eu queria fazer feat com ele, mas agora não quero mais (risos).
Já tem algo imaginado para sua carreira daqui por diante? Eu primeiramente gostaria de aproveitar toda essa agenda que reverberou aqui fora e curtir tudo isso que é novo para mim. Na música, eu já gostaria de montar o meu show. Tinha muitos anos que eu não fazia show, então ainda não tenho um montado, mas é uma coisa simples de resolver. Depois, quero começar a trabalhar no meu EP, produzir seis, sete, oito faixas. E trabalhar com videoclipe, porque eu adoro a parte do audiovisual. E então, sair para fazer show, aproveitar esse momento que a galera tá acompanhando firme, já começar a apresentar minhas novas músicas, e por aí vai. Eu já tenho algumas bem bacanas que eu tô ansioso para lançar. Mas acredito que um camping de composição faria bem também, com compositores que entendessem do nicho. Até hoje fiz poucos trabalhos, e não muito com identidade, porque eu ainda não sabia o que eu queria. E agora eu sei o que eu quero, então seria outra vibe.
Como gostaria que o mercado musical e o público te recebessem? Tudo menos o rabugento (risos). O pessoal brincou tanto com isso lá dentro da casa que agora eu já tô brincando também. Eu gostaria que as pessoas me conhecessem como o Nick, o menino que venceu vindo de uma realidade muito difícil. Eu sou muito plural, já fiz de tudo: eu cozinho, já trabalhei em oficina automotiva, já trabalhei em servente, já trabalhei com a minha mãe em restaurante. Então eu gostaria que as pessoas me conhecessem como uma pessoa de bom coração, um cara que tentou, que ajudou a comunidade, sabe? É isso.
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Qual você acha que é o participante mais forte da competição? E quem gostaria que vencesse o ‘Estrela da Casa’? Tem três pessoas que são muito fortes, na minha opinião: o Matheus Torres, o Gael Vicci e o Lucca. O Matheus, o lance do casal, ajuda muito ele, fora que ele é um artista incrível, um cara pensante. O Lucca canta muito bem, performa muito bem e tá inserido num nicho que é muito consumido no Brasil. E o Gael é uma coisa que eu nunca vi na minha vida. Um menino de 18 anos, alto, afeminado, bissexual, que canta pra caramba, interpreta, dubla, atua. Ele é um artista completo. Eu gostaria muito que o Gael vencesse. Para mim seria incrível, não por uma questão de bandeira e tudo mais, mas porque ele é diferente. Ele merece, vem de uma realidade muito pesada, é muito dedicado, fica 24 horas cantando e suportando as críticas, inclusive as que eu já fiz para ele. E hoje eu reconheço que isso faz parte total do sucesso dele, de como ele é como artista, da entrega dele. Eu realmente não faço ideia de quem ganha, mas acho que está nesse ranking.