Lembrado até hoje pelo público por seu trabalho como Nenenzinho, de ‘A Regra do Jogo’, Allan Souza de Lima vive um vilão na novela das seis da Globo, Órfãos da Terra.
Na trama de Ducha Rachid e Thelma Guedes, ele interpreta Youssef, sobrinho do Sheik Aziz Abdallah (Herson Capri) e á apaixonado pela prima, Dalila (Alice Wegmann). A moça, por sua vez, é obcecada por Jamil (Renato Goes), que foge com Laila (Julia Dalavia). A missão de Yossef será exatamente encontrar o mocinho e levar Laila de volta para se casar com o Sheik Aziz.
Em entrevista ao Área Vip, Allan, que fez duas novelas bíblicas e participou do Dancing Brasil, na Record, fala do personagem e do desafio de querer dar o máximo de si em cada trabalho que faz.
Fala um pouco como vai ser o Yossef?
O Youssef… digamos que é um vilão. Estou até feliz porque esse é o meu primeiro trabalho na Globo fazendo um vilão. Eu sempre fiz personagens muito caracterizados. Ele é o sobrinho do Aziz Abdallah (Herson Capri), sangue do sangue, talvez ele seja a ligação mais direta. Digamos que ele é um devoto dele, o braço direito. Ele vai girar a trama inicial em busca do personagem do Renato Góes, que é o Jamil, quando ele foge para o Brasil em busca da Laila (Julia Dalávia). Como o Aziz vai perceber que tem alguma coisa errada, então ele acaba mandando o Youssef voltar para o Líbano, porque na verdade ele está cuidado da Dalila (Alice Wegmann), ele faz a segurança dela. Mas ele também é apaixonado pela Dalila, eu acho que o momento de humanidade do personagem é essa paixão que ele tem por ela, que é a filha do Aziz. Ele acaba voltando por essa desconfiança, aí tem a missão de ir para o Brasil em busca do Jamil, mas chega lá e descobre que ele está com a Laila, logo depois terá que tentar matar ele.
Mesmo no meio dessa vilania você acha que vai ter um pouco de humor no personagem?
Eu tive pouquíssimo tempo de preparação, porque eu estava fazendo um outro trabalho e a preparação já tinha começado em novembro. Eu cheguei no final de dezembro, faltando duas semanas para gravar. Então eu fui assimilando muita informação em pouco tempo. Eu peguei muita referência de séries e eu acabei me identificando com um personagem de uma série que foi feita no Líbano, um personagem que tem umas características muito próximas ao meu personagem. Eu não vejo ele com um lado cômico, é um cara muito sério, um tanto misterioso. No começo da trama eu tento trazer um pouco de leveza, para criar essa dialética entre tentar saber se o personagem é bonzinho ou não e para brincar um pouco. Tem essa incógnita de quem é esse personagem.
Como surgiu o convite para o personagem?
Eu fiquei feliz porque eu fui convidado em outubro do ano passado. Quem me convidou foi o André, com quem eu trabalhei em Novo Mundo, uma novela que ele foi o diretor geral. Mas eu estava fazendo o Dancing Brasil, minha vida estava uma loucura. Na época do Dancing eu perdi 12kg, eu ensaiava 12 horas por dia. Eu sempre vou em busca da perfeição sabendo que não existe, mas toda semana eu ia parar no hospital. Mas na verdade o André me chamou foi exatamente por isso, até por essa facilidade de: ‘cara, você conseguiu fazer um índio, não desmerecendo, mas é um pouco mais fácil’.
Trabalhar com uma equipe que você conhece fica mais fácil desenvolver o trabalho?
Quando eu já trabalhei com alguém, que já conhece um pouco o meu processo de trabalho, eu sempre peço para fazer o meu processo. Porque eu acho que eu aproveito mais. Quando eu recebi o texto, por exemplo, eu não tinha muito tempo, mas eu consegui contratar um cara, um refugiado sírio que começou a me dar aula por fora. Eu traduzi tudo, todo o meu texto em árabe, e eu decorei quase tudo em árabe. Eu cheguei com a proposta disso e aí o Gustavo falou: ‘Não, não… calma.’.
Mas foi fácil?
Não, não foi fácil. Eu desenrolo e tenho uma facilidade. Eu fiz um filme quando terminou Novo Mundo, fui gravar na fronteira e fiz um personagem que era uruguaio. Então eu fiquei um mês dormindo com o fone de ouvido, ouvindo esses acordeões, caras de cordel uruguaio. Tem uma facilidade, mas claro, com muito tempo de processo. Eu acho que a musicalidade ajuda, quem é músico sabe o momento certo também.
Como está sendo sua relação com a cultura árabe?
O ano passado eu fui fazer uma novela no Marrocos, a primeira fase de Jesus, da Record TV. Eu fiquei 15 dias lá. Eu gravei em média uns cinco dias, depois aluguei um carro e saí. Eu conheci uma cultura muito interna, do interior do Marrocos que é de todos os países árabes, talvez um dos países mais sunitas, menos radicais. No Marrocos a mulher não tem a coisa da burca, mas no interior você vê as pessoas com aquelas batas brancas, as mulheres andando com véu no rosto. As pessoas comem muita melancia porque é muito árido, as pessoas falam berrando e parecem que eles vão bater em você.
E a culinária, você gosta?
Eu acho um pouco pesada, quando eu fiquei lá eu senti falta de me alimentar de uma coisa mais saudável já no quinto dia. Lá é muito pão, eu lembro de uma vez que eu terminei de comer, sobrou o pão, fui jogar no lixo e lá eles não jogam o pão no lixo, o pão é sagrado.
A novela é um horário onde muitas senhoras estão assistindo. E você faz um vilão. Está preparado para receber bolsadas das vovozinhas?
A gente sempre está. Eu já passei por umas pequenas situações de as pessoas confundirem o personagem com o ator. Mas acho que faz parte um pouco. Acho isso até bom, porque quando acabam confundindo, você pensa que então está legal.
A Dalila também é uma vilã. Vai rolar uma química entre os personagens?
Eu acho que tem um jogo, até conversando com a Alice (Wegmann) que eu não conhecia, mas quando eu não conheço eu prefiro ir bem devagar. Porque às vezes minha proposta pode assustar, então eu cheguei muito tranquilo conversando com ela e a gente chegou nesse denominador comum. Esses personagens tem uma coisa que pega no lado sexual deles, uma coisa mal resolvida. Ela pisa no calo dele e faz ele de gato e sapato. Ele acaba fazendo tudo para ela, então ela faz ele de gato e sapato. Mas tem uma tensão ali e acho que eles vão ter uma noite que vão se pegar.
Essa sua entrega completa aos seus trabalhos de alguma forma pode vir a ser prejudicial para você?
Minha mãe fala muito isso. Por exemplo, eu estou com uma inflamação muito forte até hoje no meu ombro e uma outra inflamação no meu joelho, devido ao Dancing Brasil. Mas se for para eu morrer por um personagem, eu morro feliz.
O Dancing Brasil para você foi um arrependimento?
Não, de forma alguma. Foi um grande aprendizado. Todo mundo falar por ser reality, mas não tem nada de reality é só a palavra que se dá o nome disso. Aquilo ali é dança. Para mim, se brincar, aquilo ali é o maior projeto que se tem na televisão brasileira. Envolve dança, interpretação, tem ator, tem projeção e todo um aparato que eu acho incrível. Eu fiz 670 horas de ensaios em 93 dias, eu fiz uma faculdade. Cada semana era um ritmo, tinha semana que eram dois ritmos e chegávamos a ensaiar 16 horas por dia, então para um ator, um artista, eu acho incrível.”
Na sua infância você conviveu com a Xuxa?
Não, eu não convivi com a Xuxa e eu falei isso com ela. Todo mundo sorria de um jeito para ela e aí eu falei que não tive infância com a Xuxa. Eu via mais a TV Colosso, Tartarugas Ninja… Mas aí com o tempo eu entendi o que é a Xuxa, né? Ela tem um borógodo e eu nunca vi ela levantar um ai. Ela conversa com todo mundo, brinca com todo mundo, faz passagem e trata bem todo mundo.