Ana Beatriz Nogueira fará uma participação na próxima temporada de “Malhação” e a partir de junho, a atriz começará a preparação para a novela das 21h de Aguinaldo Silva.
Em uma entrevista exclusiva à coluna de Patrícia Kogut, Ana Beatriz rompeu o silêncio e revelou como mantêm sob controle a esclerose múltipla, diagnosticada em 2009.
“A arte me salva todos os dias. Já me salvava antes, agora, mais ainda“, afirma.
O primeiro surto aconteceu em janeiro de 2009. Ela estava em casa, vendo um filme na madrugada, quando sentiu a visão duplicar.
“Achei que a legenda da televisão estava ruim. Mas, no dia seguinte, não tinha melhorado e procurei o médico. Ele disse que isso se chama “diplopia” e poderia ter inúmeras causas. Concluiu que era o efeito colateral de um remédio para dormir que eu estava tomando. Me tranquilizou e garantiu que passaria com a suspensão do medicamento“.
Dias depois, na festa do lançamento da novela de Gloria Perez no Parque Lage, Ana Beatriz precisou da ajuda de Tony Ramos e da mulher dele, Lidiane, para subir as escadas e chegar ao salão do palacete:
“Lá dentro, pedi à Silvinha (Buarque) para me levar até um canto. Acabei num grupinho em que estava Leda Nagle acompanhada de dois oftalmologistas, olha a ironia. Conversamos o tempo inteiro. Passados uns 15 dias, minha visão acabou voltando ao normal e atribuí o episódio às razões que o médico tinha apontado.”
Só que, mais adiante, quando “Caminho das Índias” já estava no meio, veio o segundo surto. “Eu estava vendo duplo e embaçado. Pedi ao Calloni para me dizer de que lado estava a Vera: eu via duas Veras. Ele sinalizou, tirei uma reta e fui“.
De novo, procurou ajuda especializada. Fez muitos exames, até que veio o terceiro surto, atendida por outra neurologista, soube de fato a causa daquilo tudo.
“Todos os três (e únicos) surtos que tive foram visuais. O último se mostrou o mais angustiante: eu realmente não enxergava nada. Mas, àquela altura, ainda bem, tinha encontrado uma médica que fez o diagnóstico definitivo“.
De início, veio o choque: “Achei que era o fim. Como atriz, meu corpo é meu instrumento de trabalho, meu tudo, dependo da minha visão, da audição, das funções cognitivas. O trabalho é minha festa, minha fonte de renda, minha alegria, minha beleza. Partimos para o tratamento. Fiquei dois meses de cama, me senti debilitada. Sabe quando “somem os tapetes vermelhos”, que são aqueles sonhos bonitos que você tem quando está quase adormecendo? Foi assim que aconteceu“.
O prognóstico, representou, por outro lado, um alívio: “A médica também me disse: ‘Você tem esclerose múltipla, uma doença autoimune que não tem cura e pode ser incapacitante. Mas a sua é na forma branda, o prognóstico é muito bom e você pode controlar isso e morrer de tijolada!’”. Por tudo isso, decidiu: “vou sair dessa cama! Quando eu vi, já estava fazendo. De lá para cá, nunca trabalhei tanto na vida“.
Amigos próximos — entre os quais, Patricia Pillar, Denise Bandeira, Zélia Duncan, Malu Mader e Luiz Henrique Nogueira — aprenderam a aplicar a injeção de imunomodulador de que ela precisa para nunca mais ter surtos (“A gente treinava dando agulhada em laranjas”, ri). A medicação e a obrigação de fazer ginástica (“detesto, mas me esforço”), o calor às vezes excessivo (“contorno usando uma pedrinha de gelo nos pulsos e no pescoço”) e a fadiga são as únicas alterações na rotina. No mais, ela é igual à de qualquer profissional no auge da carreira. A decisão de tornar pública sua condição é fruto de um processo.
Durante anos, temeu o preconceito. Só o círculo restrito de amigos, o irmão Gustavo, uma tia, Helô, e Carlos Henrique Schroder (diretor geral da Globo) e Monica Albuquerque (responsável pelo Departamento de Desenvolvimento Artístico na emissora) sabiam e a apoiavam.
A atriz pretende abrir um espaço na internet para tratar do assunto. Será uma troca de experiências. É algo que fez falta a ela enquanto manteve a doença em sigilo: “O segredo é pesado. A gente vai digerindo, entendendo e resolvendo os fantasminhas. Minha decisão de falar foi motivada por amigos, por terapia e pelo desejo de tornar essa estrada mais fácil para quem tiver que passar por ela. Não estou doente, tenho uma doença. Gosto de ver a esclerose múltipla como uma característica. Muita gente tem medo de falar, com receio de virar “café com leite” na vida. Mas quem controla a vida?”
Claudia Rodrigues descobriu esclerose múltipla aos 30 anos
Vale lembrar que a atriz Claudia Rodrigues também luta contra a doença, diagnosticada em 2000. Claudia se submeteu em 2015 a um transplante de células-tronco na tentativa de fazer com que a doença, que não tem cura, não se manifestasse mais. Ela está há dois anos sob cuidados e tratamentos especiais.