Depois de viver um policial do bem em ‘Segundo Sol‘, Armando Babaioff ataca de vilão em ‘Bom Sucesso‘.
A cara de mocinho logo revela um lado obscuro de Diego a cada cena. Além de trair Nana (Fabiula Nascimento) com a secretária, Gisele (Sheron Menezzes), de baixo do nariz da mulher, ele não vai poupar esforços para lucrar com a fortuna de Alberto (Antonio Fagundes).
Nas ruas, o ator se diverte com a opinião dos fãs. “Tem de tudo. Desde gente que acha graça, até gente que quer dar na minha cara, gente que acha divertido estar achando engraçado. Eu não sei, tem gente que fala “eu me sinto culpado por achar graça no seu personagem”. Respondo: ‘A ideia é essa’”, conta.
E nos próximos capítulos de Bom Sucesso ficará evidente que o vilão não vai deixar ninguém atrapalhar o seu caminho. Diante da ameaça de Eric (Jonas Bloch) revelar seu romance com Gisele para Nana, o advogado vai provocar a morte do milionário.
Até Gisele ficará assustada com a reação do amante durante as investigações da morte do inimigo. “Diogo, uma pessoa morreu!”, questiona a secretária. “Sim, e eu nunca achei que fosse tão fácil me livrar de alguém. A gente não precisa ter medo de mais nada minha deusa”, responderá Diogo na maior frieza.
Para o ator, Diogo não tem limites e não se importa de ferir as pessoas para benefício próprio. “Ama só a ele próprio. E vai caminhando pra uma psicopatia. É amoral. Sem culpa. Vai além do machismo”, define Babaioff. Em bate papo com o Área Vip, o ator analisou o personagem, falou do sucesso da peça Tom na Fazenda no teatro e de novos projetos na carreira.
Você está fazendo um vilão bem humorado. Como está sendo e receptividade do público?
É curioso. Esse personagem vai para um lugar onde eu estou podendo brincar muito, principalmente com essa coisa da vilania. É engraçado porque eu sempre relutei muito com o título. Logo de cara me tirou o direito da dúvida. O personagem já é vilão, eu não posso fingir que eu não sou. Ele já anda de preto, já tem todo esse figurino, tem esse universo do clichê que faz parte do melodrama, mas, ao mesmo tempo é interessante você pegar esses recursos e subverter um pouco. A minha ideia sempre com esse personagem, porque, para virar uma coisa chocante é muito fácil. As coisas que ele faz e fala são muito graves então, de que forma eu posso subverter isso a ponto de deixa-lo engraçado, não no sentido de apenas fazer graça, mas colocando na responsabilidade de quem está assistindo. Talvez um sentimento de culpa por estar achando engraçado aquilo que esse personagem está se propondo a fazer. É muito louco você rir da forma que ele trata o Alberto, da forma que ele trata a enteada, Valentina. Às vezes é muito cruel, mas eu coloco essa responsabilidade na conta do público. Você que está achando graça disso, essa é a natureza desse personagem.
Mas o que você mais escuta nas ruas?
Tem de tudo. Desde gente que acha graça até gente que quer dar na minha cara, gente que acha divertido estar achando engraçado. Eu não sei, tem gente que fala “eu me sinto culpado por achar graça no seu personagem”. Respondo: “A ideia é essa”.
Ele já tentou incriminar Paloma (Grazi Massafera) colocando dinheiro na bolsa dela. O que mais vem por aí?
O objetivo dele está claro: ficar com a grana do seu Alberto. E não mede esforços para isso. Tem o plano A, o plano B, o plano C, tem todos os planos e ele é muito rápido na forma como pensa. Ele já conseguiu entrar na herança e no testamento. E isso começou bem no início da novela. Já conseguiu inserir no testamento de forma oficial e sempre ali, negociando com o Alberto, sabendo com quem ele está lidando. Só que ele está com um pouco de pressa, não está mais querendo esperar o Alberto morrer, ele já quer logo colocar o plano B em ação, que é oferecer o imóvel para essa pessoa que ninguém sabe mais ou menos quem é, Erick Feitosa (Jonas Bloch). Ele está ali já fomentando a possibilidade para adiantar logo e, talvez, além do dinheiro da herança abastecer o bolso dele com essa comissão de um edifício gigantesco em um terreno valioso. Então á já tem mais um plano B. E essa coisa do Alberto morre, não morre, ele já entendeu que a pedra no sapato dele é a Paloma. Então, “Paloma abre seu olho!”. Vai esquentar para o lado dela. Esse é o novo objetivo do Diogo, correr atrás desse problema aí.
E agora ele quer ter um filho com a Nana, não é?
Pra garantir a herança a todo custo. Ele quer dar o golpe da barriga ao contrário e ter um filho com a Nana para garantir a herança.
Ele chega a transar com a Nana a força?
O personagem sendo do jeito que é, você percebe que ele é um machista, um cara completamente perturbado, voltado para os seus próprios objetivos. É autocentrado, umbigocêntrico, só pensa nele. E quando ele se vê diante dessa possibilidade, não pensa duas vezes. Ali tem alguma patologia e interessante é como os autores inserem os elementos não só nesse personagem, mas com todos os personagens. Até agora, com um mês da novela no ar, os personagens ainda estão sendo apresentados. Você não tem uma clareza de 100% da natureza de nenhum deles. São surpresas atrás de surpresas, camadas atrás de camadas e isso, pra gente, é um prato cheio. Toda vez que chega um bloco novo eu me surpreendo com mais uma qualidade que os autores colocam para o personagem. E não só a mim, mas todos os personagens, o tempo inteiro estão recebendo informações novas e isso para o público é um refresco. São mais informações o tempo inteiro e camadas que os personagens vão recebendo, vernizes, vernizes e vernizes. Isso é muito rico pra gente, é uma surpresa semanal.
E aquela pegação com a Gisele, vai continuar? Você diz que seu personagem só pensa nele. E no caso da Gisela, Diogo não a leva a sério de jeito nenhum? Ele só está usando-a?
O que esse personagem leva a sério? Eu acho que ele, inclusive quando parece levar uma patada na cabeça, porque ele leva tapa o tempo inteiro dos personagens, até isso é pensado. Ele não dá um ponto sem nó. Toda vez que ele chega e convence a Gisele daquele universo todo, é porque ele realmente tem outro interesse por trás daquilo, o tempo todo. Não tem nada que o Diogo faça na trama que é por acaso, tudo é pensado.
Como é que você está vivendo esse momento especial como ator?
Talvez tudo o que eu tenha feito durante a minha vida me preparou pra esse personagem que vivo hoje em dia então. Fiz uma matéria para o Gshow, que era exatamente eles me mostrando meu primeiro teste aqui na emissora em 2004, e eu confesso que fiquei bastante emocionado porque eu me vi ali e 15 anos me distanciam daquela imagem. Muita coisa aconteceu. Mas as coisas mais importantes que aconteceram comigo, aconteceram com Armando fora daqui num outro lugar, me entendendo como artista e quais são as minhas intenções nessa profissão. Que responsabilidade eu tenho neste lugar, que responsabilidade social eu tenho, inclusive, porque toda a minha vida foi pautada em ensino público, eu estudei a vida inteira em escola pública então de alguma forma houve investimento do contribuinte com o meu ensino, tanto na escola fundamental como na Martins Pena, que é essa escola que eu sempre falo, de teatro, a mais antiga da América Latina, que eu gosto de tornar a falar nisso no lugar de fala. É um lugar que eu preciso defender porque essa escola está cada vez mais sucateada, ainda mais nesse momento não só a Martins Pena como a própria Uni-Rio, instituição federal sendo sucateada. Preciso lembrar de onde eu venho e o tempo inteiro eu faço questão de lembrar, porque é a minha base é pra onde eu gosto de retornar, é a minha casa é o teatro, e é onde sempre eu me renovo, então não tenho medo de encarar desafio, não tive medo quando o Luis Henrique Rios me chamou pra esse lugar, sem arrogância alguma eu falo isso com a maior humildade do mundo mais de alguma forma eu me preparei para esse lugar, para esse momento e principalmente para entrar num estúdio e achar que é natural contracenar com Jonas Bloch e Antônio Fagundes, não é (risos), não é normal você entrar e encontrar duas pessoas que eu admiro uma vida inteira eu finjo naturalidade (risos).
Você acha que ele tem limite?
Diogo é sem limites, ama só a ele próprio. E vai caminhando pra uma psicopatia. É amoral. Sem culpa. Vai além do machismo. Da mesma forma como eu, Diogo vai se descobrindo. A relação será construída aos olhos do público. É o que me assusta porque eu começo com uma proposta e essa proposta tem que se adequar a vários lugares. E um destes lugares é o texto, o outro lugar é a direção uma como o Luis Henrique vê a direção artística da novela. Outra coisa é se adequar a esse tempo com uma preocupação com o texto e com o horário, principalmente com horário. A gente sabe que é uma novela muito assistida por crianças, então tem essa preocupação sim, na hora de experimentar as cenas. Um vilão, a minha ideia na construção desse personagem dentro desse universo da literatura, é também brincar um pouco com esses vilões de literatura quase trazendo ele para um lugar lúdico. Quando discute com a Valentina, ele fala de igual pra igual, ele quase vai pra idade dela, talvez ele até vai para uma idade abaixo que a dela (risos). Parece que ele tem 5 anos discutindo com uma menina mais madura. Então esse lugar também faz parte do meu universo de literatura, das minhas histórias de fabula e eu trago um pouco desse lugar para o meu personagem também, para dialogar um pouco com o público. Mas existe sim essa preocupação, e é a parte mais divertida, é estar pegando tudo aquilo e ao mesmo tempo tem as minhas críticas a esse tipo de personagem que existe na sociedade. De que forma eu posso também colocar ali a minha alfinetada para aquilo que eu também não acredito? Não acredito em nada, o Diogo é completamente diferente de mim, mas ao mesmo tempo é 100% de mim porque eu não paro de pensar nesse cara o dia inteiro.
Qual é o passado do Diogo?
Nem eu sei. O Diogo tem uma psicopatia, mas ele é um psicopata Tupiniquim, é um psicopata cafona brasileiro. Não adianta perguntar quais são as referências que eu penso “O que você viu, qual o seriado você viu, que livros você leu?”. Sempre esperando reposta. Diogo é um psicopata brasileiro cafona. As referências dele são as mesmas que todo brasileiro tem. Ele é um brasileiro que vem de algum que eu não sei. Renega esse passado. Se o Diogo se inspirou em alguma coisa, foram todos de novelas brasileiras. Ele se inspirou nesse universo. Até a cueca vermelha que ele aparece, a gente já viu em algum lugar (risos) até isso ele falou que legal. Ele só gosta de cueca vermelha. Diogo só usa cueca vermelha porque nem eu sei, mas vem desse lugar. É um psicopata Tupiniquim. O comportamento dele é um comportamento típico de um brasileiro que quer fazer parte da alta sociedade, mas que não tem jeito. Não tem modos. Ele acha que usar sapato sem meia é chique, ele tem esse comportamento, não entende que ele não nasceu naquele lugar, ele não pertence àquele lugar. Ele finge que é daquele lugar, mas aí entra o humor, aí vem o psicopata brasileiro.
E nesse momento em que o feminismo está tão em alta, o empoderamento feminino também, como é que é viver o infiel, como é que as pessoas estão tratando disso com você na rua, e o que você acha dessa infidelidade?
Diogo também é isso, esse cara machista que não sabe direito. Ele ama a si próprio. Não sei nem se ele tem essa paixão toda pela Gisela. Acho que ele é o manipulador. Com andar da carruagem, conforme a gente vai assistindo a novela, a gente vai percebendo que o Diogo vai caminhando para um lugar de psicopatia mesmo. Ele vai indo para uma outra esfera de um personagem amoral, ele é completamente amoral e não sente culpa. Falar sobre machismo é um pouco complicado, não sei se é o que ele está abordando, Óbvio que tem isso ali, mas como ele também tem um primeiro plano, essa psicopatia que fala dessa amoralidade, ausência de culpa, ausência de filtro, é muito pior porque vai além do machismo. Ele não entende realmente de tudo, não é essa questão com relação a sexualidade. Vou falar uma coisa que nem sei se vai aparecer na novela, é completamente hipotético. Mas se, por acaso ele precisar, em algum momento para alcançar o objetivo, chegar nesse lugar, ele é capaz de tudo. Acho interessante, isso aí está mais ligado à amoralidade do personagem do que com relação a sexualidade dele em si. Vai para o lugar da ausência de filtro mesmo. Ele acha que transar com mulher desacordada, porque ela está um pouco alcoolizada, porque foi ideia dele. Na cabeça dele é normal porque ele é marido dela, ele é casado com ela.
O personagem chega ao extremo quando Eric descobre a traição dele e pretende contar pra Nana. A partir daí ele vai se tornar um criminoso?
Eu acho que já começou a vilania nesse sentido de aparecer uma outra faceta do Diogo, um pouco mais agressiva, o que é divertido porque uma hora você compra o humor, a graça do personagem e em um outro momento você fala “gente eu estava rindo disso”. Essa estranheza que eu acho interessante causar no público, isso me interessa porque estamos falando de seres humanos, estamos falando de humanidade. Ele não é uma coisa só, não é um bloco. Ele continua com esse humor sarcástico, ácido e o que torna o personagem interessante e curioso e que permite que ele chegue nesse lugar, naquele início de conversa que estávamos falando, a culpa e eu gostaria que o público sentisse por gostar desse personagem.
Até agora o público não viu as maldades, mas lá na frente parece que ele vai começar a matar bastante gente. Como é para você esse trabalho todo já entrando pro lado de assassino? A mão dele vai estar suja de sangue…
É um peso maior sabe que ele é um assassino. Se eu contar, eu vou estar adiantando muita coisa da novela a gente vai estar indo pra um capítulo muito avançado, mas o que eu posso adiantar é que o Diogo da mesma forma como eu, vai se descobrindo, a gente vai descobrindo junto com o público essa relação dele com a morte , assassinato e ele se identificando e gostando disso essa relação vai ser construída aos olhos do público e isso para mim e mais legal ainda porque é uma construção e a gente vai ter a possibilidade de ver esse sentimento nascer e ele ir para esse lugar de criação.
Você já tem outro projeto?
Eu estou produzindo uma peça do mesmo autor do Tom na Fazenda. Nós fomos para Montreal ano passado e ai ele ficou tão impactado com a peça que resolveu fazer um encontro na casa dele com o elenco e direção. Ele me entregou um envelope e disse: “Esse aqui é para você. Estou te dando uma peça nova e sem direitos autorais. Você não precisa me pagar nada”.
Então deve ser rápido.
Não, ano que vem nós vamos fazer uma temporada em Montreal de um mês, a gente estreia 3 de março. Se chama A Estrada dos Passos Perigosos, já traduzi.
E Tom na Fazenda foi um grande sucesso, a que conclusão você chegou sobre sua responsabilidade e como você exerce ela?
Tom na Fazenda é isso. É uma peça sem patrocínio e que a gente se apresenta no Brasil inteiro. O objetivo da peça não é fazer dinheiro, é o que os artistas brasileiros pensam nesse momento. A peça dialoga muito. No primeiro momento ficamos muito receosos achando que a peça ia entrar no nicho falando sobre homofobia. Mas passa longe disso. Também fala sobre homofobia. Aconteceu um ato homofóbico no passado e que diz muito a esses personagens hoje. Quem são esses personagens se não nós mesmos? Essa peça ganhou um lugar no público de muito carinho. Tem uma divulgação de boca a boca e sem dinheiro algum. Essa peça, pelo contrário, me deve dinheiro. Eu encontro nesse lugar a oportunidade de estar falando algo que eu acredito, com uma equipe inteira que são meus amigos. Meu objetivo é olhar para mim daqui há 50 anos e ter a mesma sensação que eu tive assistindo aquele garoto em 2004. Ali eu tinha 22 anos de idade e muitos sonhos na cabeça. Eu continuo nesse mesmo lugar, duvidando da minha capacidade, não tendo certeza de absolutamente nada, começando um trabalho do zero como se tivesse começando pela primeira vez e, de alguma forma, pensar nas pessoas que me ajudaram e isso eu não esqueço. Todas as pessoas que me ajudaram a estar aqui sentado na frente de vocês falando sobre o que eu já fiz. É algo que eu não posso esquecer.
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