O Festival LED abriu o segundo dia de programação com a mesa ‘Como conviver e aprender com medo? Precisamos falar sobre as violências nas escolas’. Relembrando os ataques e ondas de massacres nas escolas ocorridos nos últimos meses no Brasil, a mesa apresentou um debate sensível sobre medo, racismo e masculinidade. Astrid Fontenelle mediou uma versão ‘pocket’ do Saia Justa, com Gabriela Prioli, Larissa Luz e Bela Gil, convidando para a conversa a socióloga e especialista em violência escolar, Miriam Abramovay.
Larissa Luz lembrou as inúmeras violências sofridas pelos pretos nas escolas do Brasil. “A maioria dos casos de violência no brasil não é sobre bullying, é sobre racismo. A gente precisa desenvolver métodos para os professores e responsáveis, para as crianças, métodos para conversamos, para saber como falar e agir diante do medo.”, disse Larissa.
Prioli ressaltou ainda sobre a relação da violência e a masculinidade. “A gente tem estudos mostrando que, quando as mulheres assumem um protagonismo mais significativo, esse assunto entra na pauta no momento de crise econômica, o homem se sente fragilizado no seu lugar tradicional de provedor, que é também um lugar absolutamente tóxico, que vulnera os homens”.
Bela Gil falou ainda da importância do diálogo como meio de aprendizado, proteção e amenização do medo. “Algo que Astrid sempre coloca no programa é que a gente precisa cuidar da nossa saúde mental. Tratamento psicológico deveria estar na cesta básica do governo. A gente realmente tem medo de falar porque a gente não sabe como o outro vai reagir. Então, tendo o atendimento profissional, a gente cresce sabendo melhor que aquele lugar é seguro, é acolhedor”, complementou Gil.
Festival LED reúne artistas e profissionais da educação no Rio
Borogodó cultural
No MAR, a programação começou com a mesa ‘Borogodó cultural: uma escola chamada Brasil´, mediada pelo apresentador do ‘Encontro’ e ‘Papo de Segunda’, Manoel Soares. O papo abordou a importância de trazer ao aprendizado o conhecimento tanto acadêmico quanto da cultura de maneira geral, que abrange arte, música e até mesmo os saberes populares – muitas vezes excluídos das salas de aula –, a fim de proporcionar uma aprendizagem mais harmônica e democrática. O intuito foi mostrar que a arte pode transformar o processo pedagógico de maneira positiva.
A imortal da Academia Brasileira de Letras, Heloísa Buarque de Hollanda, frisou que grande parte do seu conhecimento foi adquirido também por meio do seu olhar além da academia, ou seja, nas ruas. “A escola precisa se abrir para outros conhecimentos, pois existe muita cultura fora do eixo da universidade. O saber popular foi silenciado. Porém, a articulação de todos saberes com o ancestral vai produzir um terceiro conhecimento. E um não vai silenciar o outro”, afirma.
Raphael Callou frisou da sua felicidade em trabalhar com cultura e também lembrou da sua infância, quando a teve a música introduzida por um tio. Ele também contou um pouco sobre a atuação da OEI Brasil, instituição da qual é diretor. “Hoje a OEI está presente em 23 países e no Brasil estamos com 72 projetos, sendo que 32 deles têm relação com a cultura”, ressalta.
Representatividade na TV
Dando continuidade à programação do Festival LED, Morena Mariah, Jonathan Ferr e Tina Calamba participaram da mesa “O futuro é preto. Reimaginando a educação com as lentes do afrofuturismo”, no Museu do Amanhã. Com mediação da apresentadora Kenya Sade, a conversa apontou como o afrofuturismo pode ser uma poderosa ferramenta dentro e fora da sala de aula.
Jonathan Ferr comentou a sua experiência e uso do afrofuturismo no seu trabalho como artista “Eu comecei a fazer uma experimentação que eu chamo de afro futurista. Porém, mais do que experimentar, eu desejo imaginar – e provocar – como viver e incluir esse conceito na nossa atualidade”.
Durante o papo, Kenya citou a representatividade na TV atual. “2023 está sendo um ano de romper barreiras na TV, com pretos em novelas, à frente dos programas e nos realities” disse, ao perguntar para Tina como foi estar na última edição do Big Brother Brasil.
“A gente sempre consumiu muito a TV do Brasil e fico feliz de saber que hoje, não temos apenas a Tais Araújo. Somos vários. Eu, quando eu tive certeza que ia para o BBB, pensei muito em como me apresentar. Pensei na minha África e fui com meu look, minhas estampas, meu cabelo. E aí, quando entrei, dei de cara com outros pretos, como Fred, Sarah… Todos com suas caras, diferentes de mim e isso foi maravilhoso”, disse a ex-sister.
Encontro de feras
A arte dos encontros foi a pauta da facilitadora, consultora estratégica e autora do aclamado livro “A arte dos Encontros”, Priya Parker. A apresentadora do podcast “Together Apart” do New York Times, foi entrevistada por Maju Coutinho em um encontro que começou com aplausos calorosos da plateia.
Levando todos para o centro da conversa, Priya falou que descobrir o propósito dos encontros é essencial para as relações. Para ela, essa descoberta é fundamental e individual. Dependendo do contexto, ambientação e psicológico. E é isso que resolverá também os conflitos, seja virtual ou presencial.
Priya aprofundou o pensamento com as conexões durante a pandemia. “Eu escrevi a arte dos encontros dois anos antes da pandemia. Neste período, a maneira que a gente se encontrava era da forma que era possível. A pandemia mostrou que a gente se adapta, reimaginamos as nossas ferramentas do encontro”.
Protagonismo feminino
O protagonismo feminino na educação foi tema de mais uma palestra mediada por Poliana Abritta e contou com a presença de Christina Xavier, mãe de Luana Xavier, e da professora e escritora Regina Luz, mãe de Larissa Luz. Mulheres que quebraram barreiras e fizeram da educação uma ponte para alcançar além de conhecimento, sua autonomia e liberdade na vida. E mais do que isso, servir de exemplo a seus filhos e filhas. O protagonismo feminino que transforma todos a sua volta foi o tom da mesa ‘Com quantas jornadas se faz uma mulher? Protagonismo feminino na educação’, que aconteceu no MAR.
Maju Coutinho assume apresentação do Fantástico ao lado de Poliana Abritta
Inteligência Artificial
Revolução ou “modinha”? Como a inteligência artificial está transformando as formas de ensinar e aprende. Martha Gabriel, futurista, professora e escritora, abriu a conversa com uma aula sobre o ChatGPT. Ela explicou como a tecnologia funciona e pode ser usada em também em sala de aula. “Uma pessoa mediana empoderada por tecnologia torna-se melhor do que o maior expert humano trabalhando sem tecnologia”, afirmou.
Na sequência, Andréia Sadi mediou a conversa entre Felipe Castanhari, youtuber, Bianca Kremer, pesquisadora em direito digital, e Martha Gabriel. Os convidados ressaltaram a importância do cuidado e da responsabilidade com a nova tecnologia, que precisa urgentemente ser debatida com todas as pessoas, sem distinção.
A apresentadora da Globo lembrou o seu susto quando teve o seu primeiro contato com a IA. “Imagina para mim, como jornalista. Quando eu usei a primeira vez, foi uma surpresa. Pensando no futuro, os meus filhos vão falar: nossa mãe, você começava a escrever os seus textos?”, disse ela, questionando a possibilidade de mudança radical de comportamento no futuro.
Desafio LED
O Festival contou ainda com o ‘Desafio LED’. Mais de 2 mil estudantes de todo o país enviaram suas ideias inovadoras para solucionar problemas que observam no dia a dia de sua jornada educacional e cinco delas foram selecionadas para a última etapa: o pitch. O júri do Desafio foi composto por Bia Santos, empreendedora e fundadora da Barkus; Nathalia Arcuri, empreendedora e fundadora da Me Poupe!; e Wesla Monteiro, pedagoga e ativista pela educação.
Em primeiro lugar ficou Maria Eduarda de Carvalho, criadora do Entre Pontos, uma plataforma digital que visa conectar jovens estudantes que compartilham trajetos e rotas parecidas a fim de reduzir a vulnerabilidade nas ruas e ampliar o acesso às instituições de ensino, com prêmio no valor de R$ 85 mil.