A 2ª edição do ‘Festival LED – Luz na Educação’ reuniu artistas e profissionais de educação no Rio de Janeiro. A manhã começou com o pequeno Tom Zé fazendo uma apresentação musical com seus ancestrais: pai, avós e bisavó, que encantaram a plateia que se preparava para acompanhar a primeira mesa do festival.
No Museu do Amanhã, o primeiro painel ‘Trajetórias ancestrais: como o passado pode guiar futuros plurais?’ teve a mediação de Luciano Huck e a participação da escritora Ana Maria Gonçalves, do ator Lázaro Ramos e do professor indígena Daniel Munduruku. A valorização dos professores e dos espaços educacionais foram destaques na conversa, que falou sobre caminhos e guias de futuros plurais por meio do reconhecimento da ancestralidade.
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‘Ancestralidade é igual a uma teia de aranha, juntando os caminhos dos saberes de algo que não começa só em mim, mas que significa pertencer. O Brasil precisa construir sua teia. Precisamos de uma pedagogia do pertencimento, pensar no Brasil grande, uma teia da qual faço parte, seja do povo indígena, africano ou europeu. Somos um povo que precisa construir sua ancestralidade e a autoestima das nossas crianças, e não negar aquilo que somos”, defendeu Daniel Munduruku.
Lázaro Ramos apontou que um caminho para a construção desse pertencimento é a educação. “O papel da escola e dos educadores é fundamental na construção da ancestralidade. É preciso conhecer a história do nosso país e, para isso, não tem como a gente não falar da valorização do professor. A ancestralidade se constrói também nas pessoas que constroem esse saber”, afirmou.
Luciano Huck contribuiu com a conversa opinando que “somos um país multicultural. A gente só vai conseguir mudar essa realidade quando a educação, de fato, for de qualidade e não definida por onde nascemos, quando não tivermos que discutir setores por religião, por cor ou crença”, pontuou o apresentador.
Desafio coletivo
A mesa ‘Educação no Brasil: um desafio coletivo’, no Museu do Amanhã, reuniu André Lázaro (professor e diretor de Políticas Públicas da Fundação Santillana), a atriz Elisa Lucinda e a antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz.
A atriz Regina Casé mediou a conversa celebrando os avanços no setor. “A educação no Brasil não é só problema. O LED mostra isso. Também são sonhos”, comentou. “Eu tenho notado, estudando os dados sobre a educação, que antes ela era uma herança de classe. Hoje, a educação se tornou um direito de todos. A primeira coisa que a educação precisa fazer é festejar a presença do diverso nas salas de aula”, concordou André Lázaro.
O ambiente escolar foi tema central durante o painel. “Eu tenho o sonho de que os professores sejam muito bem pagos. Que nós tenhamos uma formação direcionada para a diversidade, para o combate ao racismo, à transfobia, ao capacitismo. É preciso igualar para desigualar. Diversidade produz mais diversidade”, completou Lilia Schwarcz. Elisa Lucinda acredita que o professor é um agente de destaque na transformação da educação no Brasil. “Cada professor, para mim, é um agente literário. A pessoa mais importante nessa história”, defendeu.
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Alfabetização infantil
No painel ‘Ler o mundo para depois ler as palavras’, no MAR, Sandra Annenberg mediou uma conversa sobre a importância da alfabetização infantil, uma vez que pesquisas recentes mostram que menos de 50% de crianças chegam ao final do segundo ano alfabetizadas.
A doutora em educação, Daniela Montuani, defendeu que não tem idade certa para alfabetização, mas que parâmetros são importantes. “A alfabetização é um processo complexo, contínuo. É possível dizer que, ao final do primeiro ano, as crianças deveriam dar conta de escrever alfabeticamente. Mas não podemos engessar isso, pois estamos num país de proporções continentais”. Simone Pereira, especialista em educação e letramento, acredita que a criança deve ser a protagonista do processo: “Como professora alfabetizadora, é preciso conhecer meu aluno individualmente para fornecer as habilidades a ele nesse processo de alfabetização. O professor precisa dar autonomia à criança, pensar em recursos didáticos e inserir os alunos como protagonistas nesse processo”, pontuou.
Mudanças climáticas e cotas raciais
A mesa “Ecoansiedade: como lidar com a angústia diante das mudanças climáticas?” trouxe discussões sobre como as mudanças climáticas têm afetado as doenças mentais da população. Atualmente, 40 milhões de crianças e adolescentes estão expostos a riscos ambientais.
A jornalista Flavia Oliveira abriu a conversa do painel “Cotas e a Luta Pela Reparação Histórica”. Flavia defendeu que “cota é reparação histórica, é direito, não um privilégio. É fruto de uma luta histórica. Desde 1930, a inclusão na educação já era uma reivindicação. Aqueles ativistas da Frente Negra Brasileira já diziam o óbvio, um século atrás”.
“Falar sobre cotas é falar sobre um processo de reconstrução. O Estado Brasileiro construiu sua riqueza a partir de mão de obra de pessoas pretas e violou o direito de pessoas pretas e indígenas. Todos os países que sofreram com os impactos da violência escravocata implementaram o sistema de cotas.
O professor Daniel Munduruku afirmou que, para os indígenas, a situação é ainda mais crítica: “Não se trata somente de uma luta pelo acesso à universidade. Os povos indígenas lutam no Brasil há 523 anos para manter sua cultura. Há apenas pouco mais de 30 anos, desde a Constituição de 1988, os indígenas foram reconhecidos como brasileiros. Antes disso, não tinha nem a inclusão resolvida, muito menos a cota. A universidade não nos comporta, porque impõe o pensamento ocidental. Não cabemos nessa construção de Brasil. Quando a gente mergulha na sociedade hegemônica, perde o direito de ter nossas crenças. Estamos falando da existência de 305 povos indígenas, mais de 270 línguas diferentes. Quantas línguas indígenas aprendemos na universidade? Nenhuma. Isso tem a ver com que tipo de sociedade a gente constrói se o modelo que nos é imposto é único”.
Encerramento
O encerrando o primeiro dia do Festival LED no MAR, o painel “Juventudes, trabalho e educação: um desafio” reuniu nomes importantes do setor. Com mediação da jornalista Lilian Ribeiro, o painel discutiu o grande desafio que é formar as múltiplas juventudes que construirão o mundo de amanhã.
A mesa de encerramento do primeiro dia no Museu do Amanhã foi uma das mais festejadas pelo público. Mediado pela apresentadora Fátima Bernardes, o painel discutiu o tema ‘Como desenvolver habilidades para imaginar futuros?’. “Educação é tudo. Precisamos construir hoje para ter o amanhã que a gente deseja. Fazemos um exercício de alfabetização de futuros, é assim que a gente se descola de um passado não desejado. Precisamos estimular respeito e diversidade em todas as esferas para pensarmos em diferentes futuros. Precisamos pensar coletivamente. Só vai funcionar quando for para todos”, afirmou o presidente diretor do Museu do Amanhã.