Protagonizando uma novela pela primeira vez, João Vicente de Castro tem de cara o desafio de viver dois personagens em uma só novela em Espelho de Vida.
Enquanto Gustavo começa a aparecer mais na trama, Alain chegou a receber muitas críticas no início do folhetim por ser rabugento. Para o ator, foi doído no início, mas ele garante que aprendeu a separar o ator do personagem. “Eu consegui, por mérito do Pedro (Vasconcellos, diretor), não defender o Alain. Não colocar um carinho onde não tinha, não ser fofo onde não era pra ser fofo”, contou.
Em tom de brincadeira, João confessa que não gosta muito de receber críticas. Em entrevista ao Área Vip, o ator fala da nova experiência, vidas passadas, e do triângulo amoroso com Cris (Vitória Strada) e Izabel (Aline Moraes).
Confira:
Eu quero saber como está essa nova fase da novela pra você?
A gente conversou no início da novela, ainda era uma expectativa muito grande. Eu diria que é o trabalho mais difícil que eu fiz na minha vida. Um protagonista que tinha a possibilidade de ter uma rejeição do público muito grande. Ele está sempre em conflito com a mocinha, brigando com a Margot, a Irene Ravache, que é uma grande atriz e faz um personagem extremamente carismático, era duro ter que brigar com ela. Mas as pessoas entenderam, por competência do texto da Elizabeth Jhim, que o Alain é um ser humano, que erra, acerta, mas não é um ser de má índole, é um sujeito que, como todos nós, tem erros, vive e sobre as consequências desses erros, e a humanidade dele eu acho que pegou de alguma forma.
E o personagem foi mudando a longo da trama, não é?
Eu acho que tudo faz parte dessa evolução do Alain depois do acidente, ele foi encaixando umas pecinhas na vida dele. Eu acho que o reconhecimento da paternidade ajudou muito ele a se humanizar, de alguma forma entrar em contato com a fragilidade, com a delicadeza, com o passado, tudo isso foi ajudando o Alain a se tornar um humano, que ele já era, mas ainda mais doce.
A Izabel continua insistido, mas ele deixa claro que ele não quer. Você acha que ali ainda sai alguma coisa?
Eu acho que ele deixa claro com as palavras, mas não tão claro com as atitudes. Eu acho que ela consegue convencer ele muitas vezes, eu acho que ela consegue se conectar com uma coisa carnal que ele tem, então vira e mexa ela consegue levar o Alain pra onde ela quer. Mas o personagem até agora está recusando.
E a nossa mocinha, ele quer ficar com ela, mas está difícil. Você acha que ele vai conseguir trazer a Cris pra ele.
Eu não sei. Eu reabri meu Twitter e minha surpresa foi ver que as pessoas torcem muito pro Alain e pra Cris, embora a novela tenha sido toda acamada sobre esse amor de outras vidas. Eu acho que isso é competência do nosso trabalho, a gente faz com muita paixão. Acho que se depender da internet, eles ficam juntos.
Como é fazer dois personagens em uma novela?
O Alain é um cara de boa índole, de bom caráter. O Gustavo é um sujeito que deixa mais essa ética pra trás pra conseguir o que ele quer. Então eu acho que ele é um vilão mais claro. O Alain não é vilão de jeito nenhum, mas é um sujeito cheio de erros, cheio de acertos. Eu acho que a dificuldade de fazer um e outro é você ter muito rígida a diferença entre os dois. Tem que estabelecer essas diferenças. O jeito de se mexer, o tom de voz, o jeito de falar, o comportamento.
Como você trabalhou essa diferença entre os personagens?
É uma coisa que você deita na cama e começa a pensar: ‘como é que eu posso’ foi muito a partir do Alain, o que o Alain não faz. O Alain é u sujeito que tem o corpo mais solto. Eu fiz o Gustavo com o corpo mais preciso, mais duro. O Alain fala mais como nós falamos, já o Gustavo fala mais pausado, mais devagar, como se falava na época. O português é mais certo. O Alain já é mais coloquial. A postura dos dois é diferente. A gente tem uma equipe muito boa fazendo essa novela e eles me ajudam muito a não deslocar um personagem do outro. Novela é um trabalho de grupo, se você não tiver essas pessoas trabalhando junto com você, você não vai se dar muito bem não.
Mas você chegou a estudar essas diferenças?
Não tem estudo. É uma coisa que você deita na cama e começa a pensar o que o Alain não tem, o que o Alain não faz. O Alain é um sujeito que tem o corpo mais solto, o Gustavo é mais preciso, duro. O Alain tem a voz mais comum e o Gustavo fala mais pausado, mais devagar, o português mais correto como se falava na época. A gente tem uma equipe muito boa fazendo essa novela e eles me ajudam muito a não deslocar um personagem do outro. Outro dia nosso técnico de som me chamou a atenção por eu estar fazendo uma cena no Gustavo e falando como o Alan. É muito louco, mas é isso.
Você lendo o texto, chegou a mudar a sua visão em relação ao espiritismo?
Digamos que me fez torcer pelo espiritismo. No sentido de que eu sou uma pessoa que acredita em um monte de coisa, não sou um cara de muita fé, é uma coisa que eu gostaria de ter mais. Nem sei como se faz para se ter fé. Mas a ideia da não finitude me agrada muito, eu gostaria que não acabasse aqui se eu pudesse escolher. Meu padastro tem 80 anos, a gente estava conversando outro dia e ele falou: ‘eu sempre muito cético e estando mais perto da morte eu começo querer acreditar que não acaba aqui’. Eu gostaria que não acabasse aqui, se eu pudesse escolher.
No início da trama, o personagem foi muito criticado, como foi isso para você?
Se você está falando do personagem, o Alain realmente chato e rabugento. Eu to te dizendo isso porque realmente teve uma confusão. Saiu uma nota, não lembro de quem foi, que dizia assim: ‘João Vicente recebe muitas críticas na internet’. E aí você lê a matéria e falava exatamente isso, que o Alain estava sendo criticado. Na hora eu falei: ‘poxa, que falta de responsabilidade isso’. Podia ter dito que o personagem recebia a critica. Mas dois minutos depois passou, eu percebi que o jornalista não tinha culpa, que na verdade é um erro de interpretação nosso, de quem tava lendo, e o jornalista tinha escrito da maneira certa. Mas, voltando para a sua pergunta, a verdade, sendo muito sincero, doía um pouco. Só que você tem que ter esse distanciamento (entre ator e personagem). Eu consegui, por mérito do Pedro (Vasconcellos, diretor), não defender o Alain. Não colocar um carinho onde não tinha, não ser fofo onde não era pra ser fofo. Porque quando você quer defender o personagem você não quer ouvir que o cara é chato. Você quer achar um carisma em algum lugar. Então, eu acho que o grande desafio foi falar: ‘esquece isso’. Você vai tomar porrada, você vai apanhar,mas você está tendo um bom trabalho que a direção está te pedindo. Por isso que eu tentei separar, o João receber muitas críticas é um extremo, o Alain receber muitas críticas é outro extremo. Não que eu não tenha recebido críticas sobre minha atuação, que eu devo ter recebido, mas graças a Deus não chegou em mim, que eu não gosto de receber (risos).