‘Chocolate com Pimenta‘, cuja edição especial começou na última segunda-feira, dia 26 de setembro, tem um gostinho peculiar para Mariana Ximenes. Foi sua primeira protagonista e o terceiro trabalho com o autor Walcyr Carrasco, consolidando uma parceria de sucesso. Na trama, ambientada na fictícia Ventura, nos anos 1920, Mariana vive Ana Francisca, jovem humilde que chama a atenção do bom partido Danilo (Murilo Benício) e os dois se apaixonam. Após artimanhas de Olga (Priscila Fantin) e outros personagens para impedir o romance dos dois, Ana volta para a cidade de Ventura sete anos depois de sua partida, disposta a se vingar.
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ENTREVISTA COM MARIANA XIMENES
O que sentiu quando soube que ‘Chocolate com Pimenta’ foi a novela escolhida para substituir ‘O Cravo e a Rosa’, que está fazendo grande sucesso no novo horário de novelas da TV Globo?
Fiquei muito feliz! Sempre me impressiona como ‘Chocolate com Pimenta’ é uma novela que segue cativando o público mesmo depois de quase 20 anos. Ela fala de amor, de fazer o bem, de amizade, de valores de caráter, laços familiares e também mostra que vingança, rancor e ressentimentos não nos levam para frente. Essa história fala exatamente disso: de como a gente precisa ter esperança e fé na vida, nas pessoas, como devemos deixar o amor entrar e transformar. A trajetória da Ana Francisca é a prova disso. Justamente por esse motivo acredito que ela siga inspirando tanta gente.
Ana Francisca é um dos papeis mais marcantes de sua consagrada carreira. De que forma esse trabalho contribuiu na sua evolução como atriz?
Sem dúvida, Ana Francisca é uma das grandes personagens da minha carreira. Ela contribuiu muito para o meu amadurecimento como atriz, como artista. Aninha foi minha primeira protagonista. Um convite delicioso e irrecusável que recebi do Walcyr Carrasco, com quem eu já tinha trabalhado em ‘Fascinação’ e ‘A Padroeira’. A história que ele criou me permitiu explorar muitas nuances. De cara, já conhecemos a índole e o coração dela. Mas a vida a fez endurecer, e criar essa personagem vingativa, enlutada, foi um exercício muito interessante. Especialmente porque, no fundo, a essência bondosa e amorosa dela não tinha mudado. Para mim como atriz foi um exercício fascinante de modular as emoções, aprender até onde ir. Além disso, pude interpretar várias personagens, porque Aninha tem muitas facetas. Ela é uma personagem muito especial para mim. E também tinha um elenco extraordinário com quem eu tive a oportunidade de aprender ao contracenar. E também aprendi muito “na coxia”, na troca nos bastidores. Cruzei com intérpretes maravilhosos, além de serem pessoas incríveis. Ganhei amigos para a vida inteira.
Quais foram os maiores desafios para interpretar a Ana Francisca? E como foi construir a virada da personagem, em que ela sai da cidade de Ventura como patinho feio e volta como uma mulher bonita, rica e sofisticada?
Construir uma personagem é sempre um desafio. Construir uma personagem como Aninha, então, é ainda mais porque ela não é uma coisa só. Ela começa a história muito inocente, pouco consciente das malícias das pessoas e acaba se deixando enganar por isso. Mas, mesmo nesse momento, ela ainda encontra pessoas em quem pode confiar, além de sua família, que sempre a apoiou. Apesar disso, ela sente uma vontade de se vingar de todos aqueles que a trataram mal e retorna para Ventura pensando nisso. Só que, no fundo, ela segue sendo aquela pessoa gentil e amável. Eu precisava construir uma personagem que mostrasse tudo isso ao mesmo tempo. Ela é uma mocinha clássica, e Walcyr trouxe muito dos clássicos para a história dela. Provas disso são as cenas em que ela leva o banho de tinta verde, uma alusão a “Carie, A Estranha”, e aquela no penhasco em que ela promete voltar e se vingar, que tem uma referência em “E O Vento Levou”. Também tem uma influência forte de “A Visita da Velha Senhora”. Então, também trouxe todas essas referências para construção dessa mulher forte, doce e ressentida ao mesmo tempo.
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Como foi o trabalho de composição para viver a personagem?
Além de todas as inspirações que já citei, também teve o trabalho de pesquisa do gestual e do contexto da época, a década de 20. Seria importante citar a preparação corporal para as “diferentes Aninhas”. A desengonçada que vira uma moça elegante. Lembro que assisti ao filme “Pigmaleão”. Contei muito com a ajuda do texto, do meu querido diretor Jorge Fernando, da equipe da novela (figurinista, caracterizador) e do próprio elenco mais experiente que ia me dando conselhos valiosos porque eu era muito jovem, mas tinha ouvidos atentos.
Relembre um pouco a trajetória da Ana Francisca e suas relações na trama.
Se tem uma palavra que pode descrever a trajetória de Ana Francisca é resiliência. Acho que justamente por isso que ‘Chocolate com Pimenta’ segue fazendo tanto sucesso. Aninha é uma mulher que não se deixa esmorecer e está sempre se reinventando, sempre correndo atrás. Essa mensagem é muito positiva. Até hoje recebo mensagens de muitas pessoas que se inspiraram a começar algo novo por causa da história dela e isso me comove muito. Às vezes, a gente não faz ideia de como as histórias que contamos impactam a vida das pessoas. Essa disposição dela com certeza vem do apoio da família. Aninha tem uma avó e primos muito amorosos, que sempre torceram por ela, que sempre estiveram ao lado dela. Isso faz toda diferença: alicerces sólidos de afeto verdadeiro. É justamente por causa desse amor que eles compartilham, além da linda relação com o Meninão (Ary Fontoura), que ela não endurece completamente seu coração, depois de todas as armações de Olga (Priscila Fantin), Bárbara (Lilia Cabral), Jezebel (Elizabeth Savalla)… E no fim das contas, é justamente esse o sentimento que importa, né?
Quais foram as melhores parcerias com atores do elenco que você teve durante a novela?
Esse trabalho me proporcionou encontros maravilhosos, inesquecíveis. O elenco era especial. Dividir a cena com Ary Fontoura, Laura Cardoso, Murilo Benício, Drica Moraes, Marcello Novaes, Osmar Prado, Elizabeth Savalla, Lilia Cabral… Realmente foi uma honra e imenso aprendizado! O clima nas gravações era muito gostoso também. Com certeza, isso ajudou muito para o sucesso da história.
Alguma curiosidade em especial ficou marcada nas suas lembranças dos bastidores?
Eu adorava as cenas com comida porque a gente gravava e depois se esbaldava (risos). No sítio onde eu fazia muitas cenas tinha plantação de milho, mandioca, acabava a gravação a gente sempre dava um jeito de aproveitar. Eu, como boa taurina que sou, adoro comer. Também era muito divertido as cenas de bolo na cara! Todo mundo virava meio criança sabe? Era uma farra!
Qual a cena ou sequência mais te marcou em ‘Chocolate com Pimenta’?
Tem muitas sequências marcantes. Mas uma sequência bem emblemática é a do banho de tinta verde. Aquele foi um ponto de virada para a personagem. Ali ela entendeu que nem todo mundo é gentil e afável, que há pessoas que só querem rir dos outros. Isso mudou completamente a visão de mundo dela e impactou diretamente nas atitudes de Ana Francisca dali em diante. Também gosto quando ela está no topo de um penhasco e faz a promessa de que ninguém mais fará nada contra ela. Tem o baile da chegada dela à cidade, que ela dança um tango, a Olga arrebenta o colar dela…Gosto também!
Você está no ar em ‘A Favorita’, no ‘Vale a Pena Ver de Novo’, outro grande trabalho seu. Gosta de revisitar personagens antigas? Costuma ser muito autocrítica?
Eu estou gostando cada vez mais de revisitar as personagens antigas. Além de ‘A Favorita’, estou no ar também na segunda temporada de ‘Ilha de Ferro’, que está sendo exibida na TV Globo. Eu costumava ser bem autocrítica, mas hoje tento aproveitar mais ao rever os trabalhos. Isso traz uma nostalgia muito boa!