Durante muitos anos, a faixa das sete da Globo era caracterizada pela comédia rasgada. Autores como Cassiano Gabus Mendes, Silvio de Abreu e Carlos Lombardi imprimiram o humor como a marca do horário. Nesta fase, cabia até mesmo o humor nonsense e aloprado.
Mas, ao que tudo indica, a era de comédias ácidas às sete ficou no passado. Dona de Mim, novo cartaz do horário, mostra que o drama cotidiano com pitadas de bom humor chegou à faixa para ficar.
Não que Dona de Mim seja um dramalhão. A nova história de Rosane Svartman é uma novela leve, divertida, com momentos de drama e humor bem dosados. Entretanto, o perfil de Leo (Clara Moneke) expõe que a ordem na faixa das sete, agora, é conquistar o público pela identificação imediata.
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Mocinha real
O primeiro capítulo de Dona de Mim foi focado em duas histórias paralelas que devem se encontrar logo. Primeiro, o público acompanhou o casamento de Abel (Tony Ramos) e Filipa (Claudia Abreu), interrompido pela chegada de Ellen (Camila Pitanga). Após uma passagem de tempo, a pequena Sofia (Elis Cabral) se tornou o terror das babás.
Depois, foi a vez de Leo entrar em cena. A mocinha interpretada por Clara Moneke se mostrou uma mulher solar, forte, com muito bom humor. Mas também vive o drama de ter perdido uma filha no passado.
Mocinha carismática, Leo encheu a tela logo de cara. O que mostra a boa mão de Rosane Svartman na criação de heroínas, um perfil muito difícil de conquistar o espectador. O perfil popular da jovem, somado ao carisma da atriz Clara Moneke, faz com que a personagem pareça de verdade.
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Drama cotidiano
Ou seja, neste primeiro capítulo, Dona de Mim mostrou que seguirá da cartilha já conhecida de Rosane Svartman, autora dos sucessos Totalmente Demais (2015), Bom Sucesso (2019) e Vai na Fé (2023). Ou seja, um drama cotidiano realista, que trata de assuntos contemporâneos urgentes sem parecer panfletário.
Interessante notar que as tramas da autora costumam tratar de temas densos, mas com leveza. Bom Sucesso, por exemplo, tratava da iminência da morte. Já Vai na Fé tinha o abuso sexual como tema central. Temas difíceis, mas mostrados de forma responsável.
Ou seja, com um pouco mais de densidade, as histórias criadas pela autora poderiam perfeitamente estar na faixa das 21h. Mas, como tudo é tratado com suavidade, acaba se encaixando às 19h. Com isso, não é exagero afirmar que o estilo de Rosane Svartman acabou ditando os novos rumos do horário.
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Menos comédia
Isso fica evidente se analisarmos as substitutas de Vai na Fé, mais recente novela de Rosane Svartman. A Globo apostou primeiro em Fuzuê (2023), de Gustavo Reiz, que vinha com a proposta de resgatar a comédia das 19h.
O autor pesou a mão no nonsense, com uma história colorida e exagerada, com elementos que já fizeram sucesso no horário no passado. Mas, desta vez, o sucesso não veio, e Fuzuê terminou como um fracasso histórico. Em seguida, Família É Tudo (2023) propôs uma mistura de drama, comédia e ação.
Na sequência, veio a elogiada Volta por Cima (2024), que colocou o horário novamente com os pés no chão. Assim, Dona de Mim dá sequência a este novo momento das novelas das sete. Considerando os resultados das últimas produções, o público prefere tramas com cores mais realistas no horário. O formato, ao que parece, veio para ficar.
**As críticas e análises aqui expostas correspondem à opinião de seus autores