
Em Garota do Momento, Marlene, personagem de Ana Flávia Cavalcanti, é uma mulher à frente de seu tempo, que criou sozinha o filho Carlito (Caio Cabral). Porém, ela sempre escondeu do filho quem era seu pai, já que Érico (Silvero Pereira) é homossexual e ganha a vida fazendo shows como Verônica Queen.
Para Ana Flávia Cavalcanti, a trama das seis da Globo acerta em cheio ao falar sobre homossexualidade no contexto dos anos 1950. A atriz, que se define como uma mulher bissexual, festejou o novo trabalho em entrevista ao site ‘Heloisa Tolipan’.
As cenas carregadas de emoção envolvendo Ana Flavia Cavalcanti e Silvero Pereira renderam inúmeros elogios à atriz. “Foi meu primeiro ‘nota 10’ em 15 anos de carreira. Demorou, mas veio”, celebrou a atriz.
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Reparação histórica
Na entrevista, Ana Flávia Cavalcanti comemora a chance de contracenar com Silvero Pereira, que é seu amigo, e de poder mostrar que a homossexualidade sempre existiu, mas era reprimida nos anos 1950.
“Tem sido muito emocionante gravar com o Silvero. Trocamos muito sobre nossas vivências. Sou uma mulher bissexual, lésbica de saída; ele é um homem gay, que já se travestiu, fez muita montagem. Então, aquele texto de regresso, na boca do personagem dele, me representou imediatamente, representou as pessoas que estavam no set e tinham vivências parecidas”, explicou.
“Vê-lo em cena me levou para um lugar muito bom, afinal a trama se passa em 1958, é novela das seis, e nós ali, plantando essa semente. As famílias sempre foram de vários tipos e os arranjos foram muitos. Essa história é uma espécie de reparação histórica/dramatúrgica para a comunidade LGBT”, continuou a atriz.
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Mãe solo
Ana Flavia Cavalcanti também ressalta outras características de Marlene em Garota do Momento. “Minha personagem foi mãe solo todos esses anos e não podemos esquecer que o Brasil tem a maior população de mães solo do mundo. Isso tudo está atrelado a resquícios da escravidão e à desestrutura desses lares negros, majoritariamente”, analisou.
“Sou filha de uma mãe solo, meu pai foi embora quando eu tinha dois anos. O pai da minha mãe fez o mesmo com ela. Essa falta paterna não é rara, infelizmente. Por isso, quando o Érico volta, 18 anos depois, Marlene meio que consegue guardar a mágoa numa ‘gaveta’ e comemora pelo filho, porque ele quer o pai perto, merece isso”, explicou.
“Além dessa trama representativa, vale destacar que demoramos muito tempo para termos famílias pretas nas novelas, então isso também é uma conquista. Não tínhamos cenários próprios, vida pessoal, relacionamentos, trilha sonora…termos hoje histórias mais desenvolvidas, complexas, é algo para celebrar”, finalizou Ana Flavia Cavalcanti.