No Rancho Fundo, apesar da premissa interessante e dos personagens carismáticos, teve um desenvolvimento que deixou a desejar. A reta final, por exemplo, foi pouco empolgante ao se resumir a batalhas burocráticas pela posse da Gruta Azul, num vai-e-vem monótono e repetitivo.
Porém, o último capítulo apagou essa má impressão e fechou a novela com chave de ouro. O autor Mário Teixeira guardou o melhor para o final e recheou o episódio derradeiro com muitas (e boas) surpresas.
A revelação de que Elias Crisóstomo (André Luiz Frambach) era um policial, por exemplo, resultou numa ótima reviravolta. A decisão de Zefa Leonel (Andrea Beltrão) de explodir a entrada da Gruta Azul também foi um desfecho apoteótico para a disputa que marcou a novela.
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Final dos vilões
As surpresas do desfecho também se estenderam aos vilões Blandina (Luisa Arraes) e Marcelo Gouveia (José Loreto). A cena em que eles despencam de um penhasco ao serem encurralados pelos mocinhos foi impressionante.
Porém, após uma passagem de um ano, eles apareceram vivíssimos aplicando golpes no Rio de Janeiro. Embora não seja um desfecho novo, o destino dos personagens fez jus às suas trajetórias, sobretudo a de Blandina. Ótima anti-heroína, a personagem não baixou a cabeça e permaneceu assim até o fim.
Fechar a trama com o casamento de Tia Salete (Mariana Lima) foi outro acerto. Afinal, a beata foi uma das melhores personagens da trama e cresceu muito ao longo da história. Mereceu tamanho destaque.
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Personagens de Mar do Sertão
No Rancho Fundo foi feliz ao resgatar vários personagens de Mar do Sertão (2022). Tipos como Deodora (Debora Bloch), Vespertino (Thardelly Lima) e Sabá Bodó (Welder Rodrigues), entre vários outros, retornaram em novos contextos.
Deodora foi a personagem que mais evoluiu. Se ela ficou devendo em vilanias em Mar do Sertão, em No Rancho Fundo a megera deitou e rolou, formando uma rivalidade interessante com Zefa Leonel. Além disso, ela ficou mais complexa aos olhos do público, já que seu passado era conhecido pelos espectadores.
Com o resgate dos personagens, Mário Teixeira mostrou que nem todos aprendem com os erros. Tanto que Deodora e Sabá Bodó voltaram para a cadeia. Já Vespertino e Floro Borromeu (Leandro Daniel) se redimiram e se modificaram.
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Erro que se repete
Mas, apesar de tantos acertos, No Rancho Fundo teve seus problemas. Mais uma vez, Mário Teixeira não conseguiu sustentar sua trama por muito tempo, e o que se viu foi uma história que perdeu fôlego ao longo de sua exibição.
O autor foi menos apressado no início da novela, apresentando bem seus protagonistas e os principais conflitos. Toda a sequência em que Zefa Leonel encontra a turmalina paraíba, por exemplo, foi desenvolvida sem pressa e de forma eficiente.
Porém, depois que os Leonel enriqueceram, a novela estacionou. O autor não desenvolveu adequadamente a mudança de vida dessa família. Ao público, deu a impressão de que eles sequer enriqueceram como diziam, já que mantiveram os mesmos hábitos de sempre. Assim, a única história da trama era mesmo a disputa pela Gruta Azul, que andou em círculos.
A situação não foi tão crítica quanto Mar do Sertão e O Tempo Não Para (2018), que tiveram suas tramas esgotadas logo no início. Mas, ainda assim, No Rancho Fundo penou com essa situação.
**As críticas e análises aqui expostas correspondem à opinião de seus autores