
Depois de uma trama sem pé nem cabeça como Mania de Você, a Globo precisava mesmo de uma novela com cara de novela para reavivar seu horário nobre. E o primeiro capítulo de Vale Tudo demonstrou que o remake do clássico de 1988 pode ser justamente o que a emissora precisa neste momento crítico.
Os fãs chiaram da necessidade de um remake, os espectadores reclamaram de certas escalações e atuações, mas a verdade é uma só: Vale Tudo é uma trama muito envolvente. Se bem atualizada, tem tudo para mexer com o público, como aconteceu há quase 40 anos.
Até aqui, não há motivo para duvidar do potencial da nova versão. Manuela Dias, autora do remake, manteve intacta a história criada por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. As atualizações se mostraram eficientes e o primeiro capítulo foi bastante envolvente.
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Mãe x filha
O principal conflito de Vale Tudo envolve a conturbada relação entre Raquel (Taís Araújo) e Maria de Fátima (Bella Campos). Enquanto a mãe acredita na honestidade, a filha acha que os fins justificam os meios. O primeiro capítulo, portanto, foi eficiente no sentido de apresentar as personagens e suas motivações.
Taís Araújo, aliás, mostrou ser a escolha certa para viver a nova Raquel. Talentosa e carismática, ela sabe fazer uma heroína clássica sem descambar para a chatice. Além disso, Taís adotou um tom naturalista, bem distante do histrionismo de Regina Duarte na novela original. Essa Raquel tem tudo para ser melhor do que a primeira.
Quanto a Bella Campos, é fato que a jovem atriz não tem a mesma cancha e experiência que Gloria Pires já tinha em 1988. Entretanto, ela segurou muito bem a personagem nesse primeiro capítulo. Demonstrou segurança e soube acentuar as diferenças entre Maria de Fátima e Raquel, abrindo caminho para o público torcer pela mãe sofredora. Até aqui, funcionou.
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Contexto

Havia – e ainda há – muita desconfiança quanto à nova versão de Vale Tudo. Isso porque a novela original foi feita em meio a um contexto de abertura política, quando a discussão sobre a ética efervescia.
Porém, a diferença de opiniões entre Raquel e Maria de Fátima ainda encontra ecos em 2025. A questão “vale a pena ser honesto no Brasil?” que permeava a trama original ainda soa muito pertinente nos dias de hoje.
Aliás, soa bem mais pertinente nos dias de hoje. Mesmo com a sociedade evoluindo sob vários aspectos nos últimos 40 anos, a discussão acerca da ética ainda é bastante latente. Basta acompanhar o noticiário político para entender que a pergunta feita por Vale Tudo em 1988 ainda busca uma resposta.
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Novelão
Mas, apesar da temática bem delineada, Vale Tudo é um novelão, ou seja, é um folhetim à moda antiga. A novela traz uma galeria de personagens carismáticos às voltas com romances, dramas, armações e reviravoltas.
Depois de uma “novela frankenstein” como Mania de Você, a Globo precisava de uma novela um tanto mais tradicional que fosse capaz de trazer o público de volta. Sendo assim, Vale Tudo se mostra uma aposta segura depois de tantas derrapadas recentes.
É sintomático que as melhores novelas das nove da Globo dos últimos três anos tenham sido remakes. Há uma evidente crise criativa que a emissora ainda não conseguiu driblar. Neste contexto, Vale Tudo atrai o público de volta com uma velha receita e abre caminho para tramas originais que – esperamos! – tenham melhor sorte.
**As críticas e análises aqui expostas correspondem à opinião de seus autores