Apostar em novas versões de novelas clássicas sempre foi uma prática na Globo. No entanto, nos últimos anos, a impressão que se tem é que tal prática tem ficado mais recorrente. Afinal, foram três remakes/releituras produzidos nos últimos três anos.
Depois de Pantanal (2022), Elas por Elas (2023) e Renascer (2024), virá ainda uma quarta aposta: Vale Tudo, com estreia confirmada para março de 2025. Diante disso, o autor e ex-diretor de teledramaturgia da Globo, Silvio de Abreu, opinou sobre o atual momento da teledramaturgia brasileira.
Em entrevista ao podcast Dois Pontos, do Estadão, ele se mostrou reticente à nova Vale Tudo. Além disso, o novelista compartilhou uma teoria sua: para Silvio de Abreu, a Globo só alcançou o sucesso ao refazer novelas de outras emissoras; enquanto isso, regravações de suas próprias novelas foram fracassos. Será?
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Deu certo
De fato, alguns dos remakes de sucesso produzidos pela Globo foram regravações de novelas realizadas anteriormente em outras emissoras. Mulheres de Areia (1993) e A Viagem (1994), por exemplo, são dois clássicos incontestáveis. E ambas são remakes de novelas produzidas na Tupi nos anos 1970.
As duas novelas foram escritas por Ivani Ribeiro, que reescreveu outras novelas suas na Globo, feitas anteriormente na Excelsior e na Tupi. A Gata Comeu (1985), por exemplo, era um remake de A Barba Azul (1974). Já Amor com Amor se Paga (1984) era uma nova versão de Camomila e Bem-me-Quer (1972).
Dos três últimos remakes produzidos pela Globo, apenas Pantanal foi considerado bem-sucedido. Era uma nova versão do clássico de Benedito Ruy Barbosa, produzido pela TV Manchete em 1990. Ou seja, até aqui, a teoria de Silvio de Abreu faz sentido.
Deu errado
Por outro lado, são inúmeros os exemplos de remakes fracassados na Globo. Um deles é Irmãos Coragem (1995), baseado num dos maiores sucessos de Janete Clair, e que foi produzida originalmente pela Globo em 1970.
Pecado Capital (1975) foi outro clássico da Globo que ganhou uma nova versão em 1998 que, ao contrário da primeira, foi um grande fiasco. Saramandaia (2013), O Rebu (2014) e a recente Elas por Elas foram outros exemplos de novelas da Globo refeitas que não emplacaram.
Até mesmo Silvio de Abreu tem um remake fracassado para chamar de seu. O autor admitiu que errou ao refazer Guerra dos Sexos (2012) sem mexer na trama original. Resultado: a história foi considerada datada e se tornou um fiasco histórico.
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Porém…
No entanto, não é verdade que todo remake da Globo de novelas produzidas pela própria emissora deram errado. Na verdade, são inúmeros os exemplos de tramas refeitas pelo canal que apresentaram ótimo resultado.
Na década de 2000, por exemplo, remakes de novelas de Benedito Ruy Barbosa às 18h alcançaram excelentes índices. Cabocla (2004), Sinhá Moça (2006) e Paraíso (2009) deram muito certo. Maria Adelaide Amaral também alcançou êxito ao reescrever Anjo Mau (1997) e Ti Ti Ti (2010), dois clássicos de Cassiano Gabus Mendes.
Sendo assim, Silvio de Abreu ignorou a própria história da Globo ao cravar que somente remakes de novelas de outras emissoras dão certo no canal dos Marinho. Na verdade, outros fatores implicam no sucesso ou fracasso de uma releitura, como a atualização do texto, os atores envolvidos, a direção e até mesmo o contexto histórico. É uma análise bem mais complexa.
**As críticas e análises aqui expostas correspondem à opinião de seus autores