O livro Clarice Lispector Entrevista, lançado recentemente, reúne conversas conduzidas pela renomada escritora durante sua trajetória como jornalista. Entre os depoimentos mais marcantes está o de Gloria Magadan, a primeira grande figura por trás das novelas da Globo. Realizada há 55 anos, a entrevista aborda problemas que as telenovelas enfrentavam na época e que, curiosamente, ainda persistem nos dias de hoje.
Nascida em Cuba, Gloria Magadan chegou ao Brasil em 1964, antes mesmo da criação da TV Globo. Na emissora, ocupou cargos importantes, como diretora do departamento de novelas, supervisora e produtora. Sob sua liderança, surgiram grandes sucessos, como Eu Compro Essa Mulher, O Sheik de Agadir e A Sombra de Rebecca.
+ João Silva faz planos 2025 e revela se enfrenta pressão de Faustão para vingar como apresentador
Apelidada no livro de “rainha da telenovela”, Magadan trouxe um estilo melodramático e épico, cheio de histórias ambientadas em reinos distantes — um contraste radical com o realismo que, mais tarde, dominaria a teledramaturgia brasileira.
Problemas nas novelas
Na conversa com Clarice Lispector, Magadan destacou dois desafios enfrentados pelas novelas, que permanecem atuais. O primeiro era a resistência do público conservador a certas histórias. Um exemplo foi A Rainha Louca (1967), que inicialmente mostrava o romance de uma mulher casada e rejeitada pelo marido com outro homem.
A rejeição do público obrigou Magadan a mudar o rumo da trama, fazendo com que o casal se reconciliasse. “A moral pública é muito forte. Terminei fazendo o marido interessar-se de novo pela mulher, e os dois se reapaixonaram”, explicou.
O segundo desafio era a longa duração das novelas, algo que ela via como um entrave criativo. Magadan lamentava a falta de folhetins mais curtos, uma questão que ainda hoje é alvo de críticas entre roteiristas.
Depois de uma saída conturbada da Globo em 1970, devido a divergências sobre os rumos da emissora, Magadan deixou o Brasil e continuou sua carreira na televisão mexicana e venezuelana. Ela faleceu em 2001, aos 81 anos, deixando um legado como pioneira da teledramaturgia brasileira e peça-chave na construção do “padrão Globo de qualidade” que se consolidaria anos mais tarde.
Colaborou: Renan Santos