Em ‘Dois Irmãos‘, imersos no drama particular que já atravessa décadas, os moradores do casarão da Rua dos Barés estão cercados pelo ideal de progresso trazido pela criação da Zona Franca. No final da década de 1960, ao mesmo tempo em que a paisagem é modificada drasticamente com a chegada das indústrias, peças artesanais de decoração dão lugar a objetos de plástico e alguns eletrodomésticos.
A síntese do período histórico de Manaus, quando os tempos áureos do comércio da borracha são uma memória esmaecida e o que brilha é o dourado do estilo kitsch, é personificada em ‘Dois Irmãos’ por Rochiram (Juan Alba). Empresário indiano em busca de negócios lucrativos no coração da Floresta Amazônica, ele surge como a salvação da família para Zana (Eliane Giardini). Atormentada pelo remorso, ela se torna uma mãe obcecada pela reconciliação dos filhos gêmeos, Omar (Cauã Reymond) e Yaqub (Cauã Reymond). “Meus filhos já fizeram as pazes?”, é a pergunta que mais repete na velhice.
Rochiram se associa a Omar. Num momento de rara estabilidade emocional, o Caçula anda empenhado em encontrar um terreno à beira do Rio Negro para a construção de um dos hotéis do indiano. Zana vê na figura exótica do visitante a oportunidade de unir os filhos. Sugere que Yaqub, o gêmeo engenheiro, assuma o projeto. “Por que não tu também, Yaqub? Tu e teu irmão, juntos?”, pergunta, numa carta, suplicante: “Não sou mãe de Caim e Abel. Não quero morrer vendo meus gêmeos se odiarem como inimigos.”
É mais uma tentativa da matriarca de dirigir a vida dos filhos rompidos desde a infância. Mas distante de trazer uma solução, o ambicioso Rochiram se tornará uma figura central no desfecho trágico da briga entre Omar e Yaqub.
As cenas estão previstas para o capítulo desta quinta-feira, dia 19. ‘Dois Irmãos’ é uma minissérie de dez capítulos, baseada na obra de Milton Hatoum, escrita por Maria Camargo e com direção artística de Luiz Fernando Carvalho.
