Autor titular das novelas Lado a Lado (2012), com Claudia Lage, e Babilônia (2015), com Gilberto Braga e Ricardo Linhares, João Ximenes Braga foi dispensado da Globo pouco tempo após o fim desta última, considerada um dos maiores fracassos da emissora.
O novelista, que estreou na função integrando o time de colaboradores de Paraíso Tropical (2007), não vê com bons olhos o mercado para roteiristas na televisão. “Sou bem pessimista em relação à profissão no atual mercado”, disse ele, em entrevista ao site Felipe Ferreira.
“Tem um lado positivo que é o fato de as empresas terem descoberto o compromisso com a diversidade e as equipes de roteiro serem maiores que na minha época. Isso é bom porque gera mais oportunidades. Mas o que se paga na média nem se compara com o que se pagava nos bons tempos de TV Globo”, revelou.
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Sem liberdade
Para João Ximenes Braga, o autor de hoje já não tem liberdade criativa. “Além da grana, hoje não vejo possibilidade de um autor conseguir ter alguma autonomia para realizar sua visão artística. Comecei a entender isso depois de ser demitido da Globo, que coincidiu com a chegada dos streamings”, explicou.
“O criador não decide mais nada, nem quando está escrevendo uma ideia original sua. Não decide mais nem quem morre, nem quem mata. Todo o poder de decisão é do executivo, que, por sua vez, é mais influenciado pelos pareceristas que pelo criador”, continuou.
“Pra quem sempre trabalhou tantos anos com Gilberto Braga, isso é pior que a morte. Eu me afastei totalmente do mercado por isso”, sentenciou o novelista, que também foi colaborador em Insensato Coração (2011), de Gilberto Braga e Ricardo Linhares.
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Lado a Lado
Novela exibida na faixa das 18h em 2012, Lado a Lado registrou baixa audiência, mas colecionou prêmios e elogios. Uma obra exitosa, na visão de João Ximenes Braga. “Lado a Lado foi a primeira telenovela a abrir os créditos com os nomes de um ator e uma atriz negros [Lázaro Ramos e Camila Pitanga], a ter um gancho de primeiro capítulo no beijo de um casal negro, a terminar com o casamento desse casal negro”, valorizou.
Para ele, a trama registrou baixa audiência por um erro estratégico da Globo. “O problema foi a decisão da direção da TV Globo de, pela primeira vez na História (e creio que a última), adiantar a novela das seis em vez de atrasar a das nove [por causa do horário político]”, lembrou.
“Lado a Lado foi lançada às cinco e meia da tarde. Quem, em São Paulo, está em casa a essa hora? Depois veio o segundo turno e horário de verão, ou seja, Lado a Lado teve toda sua carreira em SP com dia claro. Mas o sabor não foi tão amargo assim porque o ibope só foi baixo em SP. No Rio, atingia a meta. Nas capitais do Sul e do Nordeste, íamos maravilhosamente bem”, registrou o veterano.