De volta à televisão com a reprise de Tieta (1989), Paulo Betti percebe uma mudança significativa nas atuais novelas da Globo: a ausência da “efervescência política” que estava presente nas produções do passado. Segundo o ator, as tramas atuais evitam retratar ou discutir diretamente o cenário político brasileiro, algo muito comum nas novelas de décadas anteriores.
Como exemplo, Tieta trouxe referências políticas importantes, mesmo que de forma sutil. A protagonista, interpretada por Betty Faria, é expulsa de casa pelo pai justamente no dia 13 de dezembro de 1968, data em que foi decretado o AI-5, o ato mais severo da Ditadura Militar no Brasil. Esse detalhe conecta a obra ao contexto político da época, sem precisar ser explícito.
Em entrevista ao F5, Paulo Betti questiona a ausência de referências políticas nas novelas atuais. Para ele, incluir personagens discutindo política em cenas cotidianas tornaria as tramas mais próximas da realidade do público. “Seria interessante se houvesse a citação nominal de personagens, como Lula, Bolsonaro ou Arthur Lira. A TV brasileira devia falar mais próximo da realidade”, sugeriu o ator.
Betti também relembrou os bastidores de Tieta, onde o engajamento político do elenco era evidente. Nomes como Armando Bógus, Paulo José, Yoná Magalhães, Betty Faria, Joana Fomm e José Mayer tornavam o ambiente “altamente politizado”. Para ele, essa atmosfera se refletia na novela, dando mais autenticidade e liberdade à trama.
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Interpretando Timóteo, um personagem que escancarava as hipocrisias da sociedade, Paulo Betti considera que esse foi o papel mais popular de sua carreira. Segundo o ator, gravar Tieta foi uma experiência marcada pela efervescência política do Brasil no fim dos anos 80. A novela foi produzida em 1989, ano das primeiras eleições diretas após 25 anos de regime militar.
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Betti, que desde então é apoiador de Lula, lembrou como a trajetória do líder petista ressoava com suas próprias origens. “O Lula era o cara que trabalhava na fábrica, como as minhas irmãs. Eu sabia o que era um torno, um serrote, um martelo. Estava organicamente empenhado na vitória de Lula”, contou. Apesar do apoio popular, Lula acabou perdendo a eleição presidencial daquele ano para Fernando Collor de Mello.
Colaborou: Renan Santos