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Saiba mais sobre a nova série da Globo ‘Carcereiros’ – Confira o Perfil dos Personagens!

Saiba mais sobre ‘Carcereiros‘, a nova série da Globo, que estreia nesta quinta-feira, dia 26. Os passos são firmes, não […]

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Wandreza Fernandes
Wandreza Fernandes
Editora chefe do Portal Área VIP e redatora há mais de 20 anos. Especialista em Famosos, TV, Reality shows e fã de Novelas.
Carcereiros (Globo/Ramón Vasconcelos)
Carcereiros (Globo/Ramón Vasconcelos)

Saiba mais sobre ‘Carcereiros‘, a nova série da Globo, que estreia nesta quinta-feira, dia 26.

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Os passos são firmes, não têm qualquer dúvida sobre o caminho a seguir. A tensão pesa no olhar e nos ombros, carregados de tanto suportar emoções que não podem ser extravasadas. Por escolha própria ou imposição da vida, a trajetória dentro do cárcere segue um curso que não tem muitas cores, além do cinza em suas diversas tonalidades; não tem esperança de dias melhores; não tem sossego. Quando o portão bate e o cadeado é fechado, o som faz eco na alma, traz um arrepio de quem sabe que aquele é mais um dia que começa sem saber se vai terminar. Adriano (Rodrigo Lombardi) não cometeu nenhum crime para estar ali. Pelo contrário, luta dia após dia contra a possibilidade de infringir a lei, de sair do trilho, de perder o controle e as rédeas da vida – dentro e fora do presídio.

É em torno da vida de Adriano que gira ‘Carcereiros’, série vencedora do Grande Prêmio do Júri do Mip Drama, em Cannes, no ano passado. A obra estreia na Globo nesta quinta (26), com 15 episódios – três episódios inéditos a mais do que os 12 que já estavam disponíveis no Globoplay. Assinada por Fernando Bonassi, Marçal Aquino e Denisson Ramalho, escrita com Marcelo Starobinas e livremente inspirada na obra de Drauzio Varella, a série é uma coprodução da Globo com a Gullane Filmes e a Spray Filmes, tem direção-geral de José Eduardo Belmonte e direção de episódios de Belmonte e Fernando Grostein.

Os muros que cercam Adriano diariamente podem explodir a qualquer momento, seja pela efervescência natural daquele ambiente ou por sua incapacidade de lidar com o que o espera do outro lado. É com este emaranhado de sentimentos e fios desencapados que ele tem de lidar em sua rotina de carcereiro, por vezes confundida com a de um preso. O semblante de Adriano traz consigo histórias de uma vida muito correta e marcada pela dureza dos dias vividos dentro deste sistema. Por mais que não pareça – e que talvez não acredite mais –, recai sobre ele a esperança de que é possível ser honesto, justo e, acima de tudo, humano, mesmo ali dentro. Aprendeu, na marra, as melhores técnicas de negociação, é quase um especialista em psicologia e nutre a sensibilidade no olhar para identificar uma crise que está por vir. Além disso, usa sua maior arma para solucionar qualquer conflito: a palavra. Adriano está em uma posição constantemente crítica e de completa vulnerabilidade, mas o carcereiro não tem outro instrumento à sua disposição do que o diálogo.

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Foi isso que aprendeu com seu pai, Tibério (Othon Bastos), a quem tem o desafio de nunca decepcionar. Tibério foi carcereiro a vida toda, conhece bem o que é estar do outro lado dos muros, entende quais são as dificuldades do filho. Porém, sua memória e o juízo, hoje, já estão um pouco prejudicados por conta do processo de senilidade que tem se agravado. Ele começa a entrar em uma fase em que deixa de ser um homem independente e passa a ser motivo de preocupação para toda a família. Quem sempre foi uma fortaleza passa a oferecer risco àqueles que mais ama, como quando deixa de dar a devida atenção à neta, Lívia (Giovanna Ríspoli), ou vive uma paixão repentina por uma moça bem mais nova.

Filha do primeiro casamento de Adriano, Lívia não se difere em nada de outras adolescentes: quer ter seu espaço, lutar pelo que acredita, namorar e, se possível, ficar distante da atual esposa do pai. Existe, porém, uma história que ficou mal resolvida na vida da menina e que, agora, ela quer fazer de tudo para solucionar. Quando ainda era muito pequena, sua mãe desapareceu sem deixar rastros, deixando para trás a filha, o marido e muitas dúvidas – está aí talvez a razão de uma relação truncada entre a jovem e a madrasta, Janaína (Mariana Nunes).

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Por mais que tente, Janaína não consegue encontrar muito espaço na vida da garota. Nem mesmo sua experiência de anos com crianças em sala de aula é capaz de fazer quebrar a barreira que as separa. Desde que entrou nesta família, ela tem a intenção de construir a sua própria, tarefa nada fácil. Os dias ao lado de Adriano são permeados por uma tensão constante por conta do ofício nada tranquilo do marido e que, inevitavelmente, endurece suas relações com o mundo. Assim, os dias de paixão do casal foram tomados por uma rotina cansada, presa a um único desejo de Janaína: engravidar.

Para onde quer que olhe, Adriano se depara com nós que têm se tornado cada vez mais apertados, mais difíceis de lidar, em uma sucessão de conflitos. Com o que ainda tem de paciência e força de vontade, faz de tudo para desatá-los e não se deixar levar pelo sistema. Enquanto não puder usar as chaves da cadeia para libertar a si mesmo, ele vai viver tão preso quanto às centenas de condenados que o cercam diariamente.

Com ele, estão nessa dura batalha alguns companheiros, comprometidos em maior ou menor escala na causa da recuperação dos detentos. Valdir (Tony Tornado), o veterano da equipe, crê na reeducação desses homens e tem o compromisso próprio de dar aulas de boxe aos presos. É a contribuição que pode oferecer. Juscelino (Aílton Graça), por sua vez, é o diretor de segurança do presídio. Apesar de certa bagagem, não tem muita habilidade no trato com o outro, mas, aparentemente, faz o que precisa ser feito dentro de seu trabalho.

Além de Rodrigo Lombardi, Othon Bastos, Mariana Nunes, Giovanna Ríspoli, Aílton Graça e Tony Tornado, o elenco de ‘Carcereiros’ conta com Lourinelson Vladmir, Jean Amorim e Nani de Oliveira e tem participações especiais de Chico Diaz, Matheus Nachtergaele, Projota, Letícia Sabatella, Carol Castro, Caco Ciocler, Gabriel Leone, Samantha Schmutz, entre outros.

Um novo olhar

Nas histórias da ficção em que o sistema prisional entra como pano de fundo, dois personagens têm muita relevância: o preso e o policial. Séries, filmes e livros levam em consideração esses dois extremos, essas duas figuras que estão muito próximas, mas que estão em lados opostos na balança. Um aspecto fundamental desta série, especificamente, é também o seu grande diferencial. Ela fala sobre a vida daqueles que estão, dia após dia, vivendo entre os presos e os policiais, tendo de administrar os dois lados e promover uma convivência mínima entre eles. É com o olhar do carcereiro que entramos neste universo por uma nova perspectiva.

Depois de ter escrito “Estação Carandiru”, Drauzio Varella se debruçou sobre a vida daqueles que foram seus companheiros por muitos anos e que trabalhavam constantemente sob pressão, em condições precárias. Um universo desconhecido do grande público é, então, apresentado pelo médico, com detalhes de um ofício que exige jogo de cintura e frieza.

Inspirados pela obra, os autores buscam, com isso, ampliar o horizonte do espectador. “Queremos propor a ele identificar-se com um profissional numa situação diária de alto risco, mas que precisa voltar todos os dias para casa, para a família. O estresse e a barbárie transbordam para o lar? Que tipo de pai, de filho, de marido um agente penitenciário consegue ser?”, questiona Denisson Ramalho, um dos autores da série. Ao se depararem com o livro de Drauzio Varella, Fernando Bonassi e Marçal Aquino conseguiram “abordar a rotina desse tipo de profissional dentro da prisão e as implicações que a atividade tem em sua vida fora da cadeia”, explica a dupla.

A vida do agente penitenciário é cercada de nuances que podem influenciar o rumo de sua história, no âmbito profissional e também pessoal. Não ceder às pressões diárias e às possibilidades de se envolver em um esquema ilegal são algumas das situações enfrentadas por essas pessoas. “Assim como os detentos estão da porta para dentro por determinadas situações, o carcereiro também está do portão para dentro. Esta é uma carreira em que o cara pode se aposentar, pode ter um salário não tão ruim quanto o que ele poderia conseguir em outra atividade. A vida deles pode ascender aqui dentro, a carreira pode melhorar, é um horizonte. A função do cidadão é poder entender o que se passa ali. A gente não está aqui para glamurizar, mas, sim, mostrar como é a realidade. O Adriano é parte desse sistema e é só um cara que poderia ser seu vizinho”, comenta o ator Rodrigo Lombardi.

Além de ter uma dinâmica de vida bastante complexa, tem detalhes por dentro desse mundo que não saltam aos olhos num primeiro olhar. Durante o processo de pesquisa para a série, o diretor-geral José Eduardo Belmonte se deparou com um depoimento tão bonito quanto impactante: “O lance na vida deles é sentir medo e superar esse medo. O carcereiro vive com vários presos e vive sem arma, a força dele é a palavra, que ‘vale mais que um fuzil’. Dá para imaginar o ‘herói da palavra’ nos dias de hoje?”.

Frieza estrutural

Quem vive a experiência de entrar em um presídio real, assim como acontece em campos de concentração desativados, relata sensações que vão além das que os olhos veem. É como se aquelas paredes tivessem uma história para contar, uma alma. Em uma produção como ‘Carcereiros’, em que a locação torna-se mais um personagem importante na trama, é preciso determinar como ele será construído. Entra em cena a direção de arte, responsável por criar esse cenário e torná-lo compatível e condizente ao roteiro.

A diretora de arte da série, Claudia Calabi, teve a oportunidade de conhecer o sistema carcerário com um olhar profissional e também pessoal. Em um projeto de documentário, ela pode lidar com a perspectiva real desse mundo, que precisava ser adaptado para as necessidades da história a ser contada. “Inicialmente, tínhamos de fazer uma pesquisa do sistema carcerário atual, porque o livro do Drauzio foi escrito num momento antes do massacre do Carandiru e, depois disso, tudo mudou. Eu vim com um repertório muito mergulhado na realidade e tive de desapegar para entrar na ficção”, avalia Claudia. Tendo visitado diferentes presídios para entender todo o conceito dos presídios atuais, a equipe de arte injetou as doses de ficção esperadas pelo diretor-geral. “O Belmonte fez um mergulho profundo no roteiro e nos pediu a construção de um presídio que não pertence a um estado ou momento real, mas a um lugar ficcional”, explica.

O local encontrado para servir de locação foi o presídio feminino de Votorantim, interior de São Paulo, que ainda estava em processo de construção. A partir de estruturas reais, foram realizadas adaptações “que fizeram um paralelo com o inferno de Dante, onde quanto mais se entra, mais difícil fica de sair”. A arquitetura do espaço tinha de apresentar austeridade, rigidez, dureza, com muros e grades representando todo um sistema.

Além das sensações, foi preciso construir diversas camadas entre a prisão profunda e a liberdade. “Nós tínhamos o eixo principal do presídio, todo em gradações de cinza, do mais claro ao mais escuro. Da entrada da penitenciária, passando pela revista, pela triagem, pelo castigo até chegar ao ‘seguro’ (solitária); as cores e o clima vão caminhando para uma coisa mais densa, soturna, pesada, mofada”, descreve a diretora de arte. Esse caminho será encarado por muitos personagens da série e acompanhado de perto por Adriano e seus companheiros.

Individualidades

Costuma-se referir a um contingente de presidiários como “massa carcerária”. Esse adjetivo, “massa”, por si só carrega muitos significados. As pessoas ali, em tese, perdem sua identidade, suas características, suas expressões para ingressar em um mundo conhecido por uniformes e cabelos cortados à máquina. Todos representam uma mesma imagem, que já faz parte, inclusive, do consciente coletivo: roupa bege, chinelo e cabeça raspada. Tentando buscar a liberdade que a ficção tem em sua origem, sem se distanciar muito da realidade, a figurinista Manuella Mello e o caracterizador Ebony Souza trouxeram à Vila Rosário algumas informações que dão personalidade aos personagens da série.

“Quando a gente trata da realidade, é perigoso contar a história de uma maneira errada. É preciso criar em cima, mas com responsabilidade, não podemos errar os códigos que existem ali, então, tivemos de estudar muito para poder criar”, explica Manuella. Parte desses códigos, em uma penitenciária, é representado pelas tatuagens. “Na cadeia, as tatuagens todas têm um significado, então, tive de fazer uma pesquisa muito grande para não colocar nada errado em cena. Por exemplo, nesse meio, uma tatuagem de santa é o símbolo de um estuprador”, conta Souza.

Os uniformes do presídio fictício da série também surgiram a partir de muitas pesquisas e atendem tanto às necessidades do texto como da fotografia. “Em Minas Gerais, o uniforme é todo vermelho; no Pará, é verde. Então, cada lugar tem uma cor diferente. Conversei muito com a Claudia Calabi e com o Belmonte, porque a gente já estava retratando um tema muito denso e achava que a cor bege deixaria tudo mais difícil, mais triste, mais decadente e deprimente”, explica a figurinista. Assim, chegaram ao amarelo e, depois de vários testes, optaram pela cor mostarda, que “tem uma leitura de amarelo, mas não interfere tanto na luz”. Outro ponto adaptado para a série foi o cabelo dos presos, que ganhou variações para que cada um tivesse sua personalidade.

É possível compreender o trabalho da equipe de figurino e caracterização a partir de um personagem bastante marcante na série, o Monstro, um pedófilo completamente perturbado interpretado por Matheus Naschtergaele. “Ele tem uma fragilidade que a gente quis mostrar na roupa: ele usa tênis e meia, não está à vontade ali; tem uma coisa mais asséptica; usa também uma sobreposição de uma camiseta de manga comprida com uma camisa da prisão toda abotoada, até o pescoço”, descreve Manuella.

Quanto aos agentes penitenciários, eles carregam um pouco de sua história também na pele. Eles precisavam ter um aspecto menos tratado, um pouco mais displicentes quanto aos cuidados pessoais. “Precisamos ver o conjunto dos carcereiros para traçar tipos diferentes. O Juscelino (Aílton Graça) ganhou uma cicatriz da testa até o olho, que representa algo que ele teria vivido; o Isaías (Lourinelson Vladimir) tem várias manchinhas no rosto, como se fosse uma coisa mais sintomática, tudo que ele sente, aparece na pele. A diretora (Nani de Oliveira) tinha que ser forte, mas com presença feminina. Ela era maquiada, usava batom, sombra, ela se preparava para ir ao presídio”, detalha o caracterizador.

O personagem de Rodrigo Lombardi exprime também toda sua retidão em seu visual. Ele está sempre de calça, camisa, nunca será visto de pijama ou bermuda. “A gente vê muito o personagem com o uniforme e com uma mesma roupa de sempre, porque ele tem um guarda roupa reduzido, que faz parte da realidade dele, e é muito conciso e pragmático”, conta Manuella.

Obra a seis mãos

A criação de ‘Carcereiros’ é fruto de uma parceria que pôde ser vista na televisão, em 2016.  Depois de ‘Supermax’, o trio Marçal Aquino, Fernando Bonassi e Dennison Ramalho se reuniu para dar vida a Adriano e aos demais personagens da série. O cineasta e roteirista Denisson, o jornalista, escritor e roteirista Aquino e o escritor, dramaturgo, cineasta e roteirista Bonassi trabalharam outras vezes juntos e acumulam a experiência de terem feito ‘Força-tarefa’ (2009-2011) e ‘O Caçador’ (2014). É assim, em um esquema integrado, que eles também respondem às perguntas sobre este novo projeto.

– De onde surgiu a ideia de fazer Carcereiros? Foi, de fato, a partir do livro do Drauzio Varella ou vocês já pensavam sobre isso?

Marçal Aquino – Minha primeira lembrança do assunto é do início de 2013, logo depois da publicação do livro do Drauzio. O Eduardo Figueira (diretor de Produção da Globo) pediu ao Bonassi, que já havia trabalhado com material do autor (“Carandiru”), que lesse o novo livro, visando sua eventual transformação numa série ou num filme. Naquele momento, estávamos envolvidos com a criação do seriado “O Caçador”. No ano seguinte, os direitos do livro haviam sido adquiridos pela Globo, a pedido do Pedro Bial, que fez um documentário com o Fernando Grostein. Finalmente, no segundo semestre de 2015, começamos a trabalhar no projeto ‘Carcereiros’.

 – A obra é inspirada no livro, não é uma adaptação. Por que essa escolha?

Marçal e Bonassi – Nunca nos pareceu adequado falar em adaptação, pois o que fizemos foi bem diferente. É impossível transformar o livro do Drauzio num seriado, já que o que existe ali são pequenos esquetes que ele narra com base em suas experiências reais no Carandiru. Nossa estratégia foi partir para a criação dos personagens, que não existem no livro do Drauzio e das tramas, também inexistentes no livro. Preferimos falar que o seriado foi livremente inspirado no livro.

– Vocês fizeram um processo de pesquisa antes de escrever? Têm inspiração em alguma série/filme/livro?

Marçal e Bonassi – Além de assistir a muitas horas de depoimentos de agentes penitenciários, estivemos em mais de uma ocasião reunidos com um grupo desses profissionais, com quem o Drauzio Varella mantém relações de amizade. Essas experiências foram muito mais ricas do que assistir a este ou àquele seriado ou filme como base de inspiração.

Dennison Ramalho – Em minha carreira no audiovisual, passei por uma experiência profunda e transformadora. Entre 2000 e 2003, fui assistente de direção de um documentário sobre o sistema prisional brasileiro (“O Prisioneiro da Grade de Ferro”, do diretor Paulo Sacramento). Nesse período, além de acompanhar de perto a rotina dos detentos da Casa de Detenção de São Paulo, tive acesso aos arquivos de importantes jornais, onde realizei uma ampla pesquisa sobre a situação carcerária país afora. Sem dúvida, o repertório que acumulei (e as pessoas que pude conhecer, aprisionadas ou não) nessa época foram importantes inspirações que reparti com o Bonassi e o Marçal.

Ação!

Com experiência no cinema e na televisão, o roteirista e cineasta José Eduardo Belmonte é o diretor-geral de ‘Carcereiros’. Foi premiado no Festival do Rio de 2008 com o longa-metragem ‘Se Nada Mais Der Certo’ e também dirigiu o longa-metragem ‘Alemão’, com Caio Blat, Antonio Fagundes e Cauã Reymond. Aqui, entra de cabeça no sistema carcerário para trazer uma nova visão a esse mundo.

Como pode resumir a história da série ‘Carcereiros’? 

José Eduardo Belmonte – Este é um homem comum em situações extraordinárias. Um carcereiro sendo pressionado pelo estado e pelo crime organizado. É a história de um carcereiro, mas isso é resultado de uma condensação de depoimentos de vários carcereiros. A cada episódio, o Adriano tem de lidar com dilemas éticos da profissão e fazer escolhas. Ao mesmo tempo, ainda tem de lidar com as questões familiares e cotidianas. É, nesse sentido, um personagem bastante brasileiro.

– Como foi montar esse personagem? 

Belmonte – No roteiro, ele foi desenhado como um herói no sentido clássico. Aquele que tenta se manter impoluto e com a fé de que suas boas ações contaminem os outros. Ele não é um sujeito que recorra tanto a “jeitinhos” e tem poucos vícios. Bem, seguir assim seria sua vontade, mas, vivendo sob pressão, há um choque entre quem você gostaria de ser e quem você precisa ser para continuar vivo. Eu e Rodrigo (Lombardi) procuramos esse ponto de fricção para criar o personagem. É interessante porque isso o humaniza e temos esse herói do cotidiano que falei anteriormente.  Além disso, estivemos atentos ao fato de que o seu principal instrumento é a força da palavra, pois, na prisão, a palavra tem que falar mais que um tiro de fuzil. Um homem que cuida sozinho de 200, 300, 400 presos, por exemplo, precisa vencer mais pela força das suas ideias do que pela força física.

– Como foi a preparação do elenco?

Belmonte – É uma coisa que gosto de fazer eu mesmo. Nada contra os preparadores de elenco, acho que eles são muito importantes para o audiovisual brasileiro, mas, no meu caso, creio ser importante o ator ter uma relação de confiança com o diretor. A particularidade é que nesse projeto, como era um elenco de 144 pessoas e tivemos outro diretor em alguns episódios (Fernando Grostein), a Nara Mendes, que é uma atriz e também preparadora de elenco, acompanhou os ensaios e seguiu com alguns atores quando não era eu quem dirigia determinadas cenas.  Seguimos um processo no qual acredito há tempos: nos ensaios, a gente precisa entender sensorialmente e intelectualmente os personagens, os temas… Ou seja, fazer que a cabeça do ator entenda o que é o personagem, mas o corpo precisa entender também todo o seu conceito. É preciso ter uma consciência racional e emocional do personagem. Este também é o momento em que eu chamo o ator para construir a “mala pequena” do personagem, o que ele é sempre, no dia a dia, independentemente das circunstâncias. E, ainda, quais os nossos pontos de intersecção com os personagens.  É um universo muito delicado, complexo, em que creio que a aproximação deva ser feita pela empatia. Junto a isso, fizemos pequenas mesas de debates e pesquisa, ouvindo agentes penitenciários e visitando presídios. 

– Tem muita ação na série, mas tem também uma questão de conflito psicológico. O que o público pode esperar de ‘Carcereiros’?

Belmonte – Esta série é de ação com drama, porque os personagens realmente têm muitos conflitos, inclusive familiares, mas eles não têm muito tempo pra pensar, as situações são muito limite e é preciso dar uma resposta imediata – quase sempre pela ação física. Enfim, é um universo tenso e a série tentou ser fiel a isso.

Metamorfose

De galã a vilão, Rodrigo Lombardi carrega uma bagagem de grandes destaques em sua carreira. Em ‘Carcereiros’, o ator chega para dar vida ao protagonista, Adriano, e compreender o que se passa no dia a dia desses trabalhadores.

– O Belmonte disse que o Adriano é um herói da palavra. Você também vê assim? 

As pessoas precisam aprender a sobreviver dentro do presídio. É um campo de batalha. É um confinamento de pessoas de origens diversas que se encontram e convivem. Existe regra, existe hierarquia, isso é um microcosmo do que acontece lá fora, só que com pessoas que entram já sendo excluídas da sociedade. O carcereiro entra nessa regra, ele é parte da hierarquia, ele obedece regras tanto do sistema como daquele mundo ali. O Adriano é um homem comum em uma situação proposta. Ninguém cresce falando “eu quero sercarcereiro”. Como eles mesmos falam, eles chegam aqui e se assustam, depois têm raiva, depois condenam isso tudo e, depois, viram parte disso.

– Filmar em um presídio real influencia na construção do personagem?

Não é a primeira vez que entro em um presídio. Esse é um presídio em construção, nunca recebeu detentos, mas eu já gravei os primeiros capítulos de ‘O Astro’ em um presídio em Curitiba, em uma ala desativada de um presídio ativo. Existe a energia do lugar em si que, somada à projeção que se faz desse lugar, a gente se obriga a mexer com energias que têm que ser liberadas em algum momento. Então, temos que ir lá nessas emoções, mexer, colocar a coleirinha, domar, para soltar na medida certa, no momento certo, porque é esquisito. As pessoas deveriam visitar esse espaço saber como é, para entender o preço que se paga quando você está aqui. Qual é o valor que a vida toma quando você está em um sistema penitenciário. Nunca ninguém entrou nessa cela onde estamos gravando. Mas a projeção que eu faço de como as pessoas vão sair daqui é o que me alimenta a continuar trabalhando. 

– Como foi sua preparação para a série?

Tivemos longas conversas, muita leitura e quando a gente entendeu a situação proposta naquele episódio, naquela cena, a gente começou a levantar exercícios com dinâmicas, para experimentar sensações. Assisti a um documentário para ter esse olhar sobre quem são essas pessoas que o Drauzio estava falando, quem são esses carcereiros. A gente julga o policial, a gente julga o detento. E existe um ponto no meio do caminho de interseção entre esses dois universos, que é o ponto que dialoga entre eles. São essas pessoas que estão na linha de frente. São duas, às vezes três pessoas que cuidam desse espaço todo. Cada cela conta com um número grande de detentos. Ouvir as histórias dessas pessoas é o combustível para a gente estar aqui, neste presídio, todos os dias. 

Perfil dos personagens

Adriano (Rodrigo Lombardi) – Formado em História, tornou-se carcereiro seguindo os passos do pai. É o único da equipe que acredita sinceramente na plena reabilitação dos presos. Em seus anos de profissão, não faltaram oportunidades para cometer infrações, mas ele nunca se deixou corromper. Adriano superou o desaparecimento da primeira mulher, a quem considera morta, e tenta viver em harmonia com Janaína, não fosse a insistência dela em ser mãe. É pai de Lívia.

Tibério (Othon Bastos) – Carcereiro aposentado, é um homem rigoroso e teve a rotina transformada após a morte da mulher. Preocupado com a evolução da senilidade do pai, Adriano tenta contratar uma acompanhante, para sua revolta. Guarda um segredo que o atormenta há anos e que acabará revelado involuntariamente pelo filho. Pai de Adriano.

Janaína (Mariana Nunes) – Professora, planeja deixar o trabalho para engravidar e se dedicar integralmente ao sonho de ser mãe. Adriano, porém, vive postergando a realização desse sonho. Esposa de Adriano e madrasta de Lívia.

Lívia (Giovanna Ríspoli) – Vive as agruras típicas de uma adolescente. Contra todas as probabilidades, acalenta a fantasia de um dia encontrar a mãe, que saiu de casa quando ela contava semanas de vida. É ativista de redes sociais sobre pessoas desaparecidas e, embora desencorajada pelo pai, sempre que pode distribui panfletos com a foto de sua mãe, atualizada por programa de computador. Filha de Adriano e enteada de Janaína.

Valdir (Tony Tornado) – O mais experiente dos carcereiros, acredita que os condenados merecem a chance de reeducação e reinserção na sociedade. Não hesita em colocar dinheiro do próprio bolso para suprir a escassez de material esportivo de seus lutadores. Os anos lhe deram uma visão conservadora do ofício: não se mete onde não é chamado.

Dra. Vilma (Nina de Oliveira) – Diretora do presídio, é uma administradora de grande fibra, que respeita e se faz respeitar. Anda armada quando se faz necessário e não confia nem na própria sombra. Os carcereiros sob seu comando, não raro, sofrem com tamanho nível de suspeição. A despeito de seus melhores esforços, o Vila Rosário é um organismo caótico, difícil de controlar, e ilícitos, violências e traições seguem acontecendo à sua revelia.

Juscelino (Aílton Graça) – Ele é o diretor de segurança do presídio, chefe dos carcereiros de todos os pavilhões. Na hierarquia do Vila Rosário, responde diretamente à diretora, Dra. Vilma. Desprovido do jogo de cintura de seus subordinados, Juscelino toca o trabalho de forma burocrática. À primeira vista, é um mero “caxias”.

Vinícius (Jean Amorin) – Mais jovem da equipe, já tem um par de anos de caminhada no sistema. É um agente esperto, mas sua juventude e falta de experiência no batente transparecem quando, diante de situações tensas, age sob intenso medo ou imatura valentia.

Isaías (Lourinelson Vladmir) – É “colega de geração” de Adriano na equipe do Vila Rosário. Começaram no sistema à mesma época, há cerca de 15 anos. É um carcereiro escaldado, trabalhador diligente, mas que sofre ainda com inseguranças e hesitações diante de situações extremas. Esse medo não é injustificado.

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