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Saiba mais sobre a nova minissérie da Globo, ‘Dois Irmãos’

Saiba mais sobre a nova minissérie da Globo, ‘Dois Irmãos‘. Na Manaus dos anos 1920, a identidade cultural é tão […]

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Wandreza Fernandes
Wandreza Fernandes
Editora chefe do Portal Área VIP e redatora há mais de 20 anos. Especialista em Famosos, TV, Reality shows e fã de Novelas.
Globo/Divulgação

Saiba mais sobre a nova minissérie da Globo, ‘Dois Irmãos‘.

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Na Manaus dos anos 1920, a identidade cultural é tão difusa quanto a nuvem de idiomas que paira sobre o porto. Entre o vaivém de imigrantes que ainda se deixam atrair pela imagem já esmaecida da prosperidade da belle époque amazônica, nasce um grande amor e também uma rivalidade profunda. São sentimentos viscerais que saltam das páginas do romancista Milton Hatoum para a minissérie ‘Dois Irmãos’.

Omar e Yaqub (Lorenzo e Enrico Rocha/ Matheus Abreu/ Cauã Reymond). Idênticos na aparência e separados pelo amor desmedido de uma mãe.

A tragédia da família é narrada através da memória e por um olhar realista do diretor, que persegue uma ancestralidade do Mediterrâneo em terras amazônicas, uma das vertentes culturais que participa da formação do povo brasileiro no século XX.

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“‘Dois Irmãos’ é um épico familiar, um drama de enormes proporções emocionais, capaz de gerar um álbum de família que espelha a própria História do Brasil, suas alegrias e seus retrocessos. É uma obra com camadas sociológicas, antropológicas e históricas, tudo isso rebatido na mesa de jantar de uma família de imigrantes libaneses, no odor dos quartos, na sensualidade de uma mãe, no  afeto desmedido por um de seus filhos, nos ciúmes dos outros membros da família e nas perdas que o tempo nos revelam . É um Brasil em formação, composto pelos sonhos, mas também pela força de trabalho dos imigrantes”, explica o diretor artístico Luiz Fernando Carvalho.

Como no livro, o relato é de Nael (Theo Kalper/ Rian Cesar/ Irandhir Santos), o filho da empregada indígena da casa, Domingas (Sandra Paramirim/ Zahy/ Silvia Nobre). Testemunha e observador, agregado e membro renegado da família, ele tece uma colcha de retalhos toda costurada por memórias. Tenta compreender os acontecimentos que levam aquele clã singular à ruína no mesmo ritmo em que Manaus se deixa descaracterizar completamente, desde o declínio do comércio da borracha à criação da Zona Franca.

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“Os dramas daqueles personagens gerados pela predileção da mãe por um dos irmãos, a disputa de poder pelo afeto, a visceralidade de Zana e sua paixão são universais, podem acontecer em qualquer família. Apesar disso, o fato da família ser imigrante e da própria Zana ser órfã de mãe traz um contexto particular para a história que é talvez de onde resplandeça toda a magia”, observa a autora Maria Camargo.

A densidade dramática da minissérie é fruto de um intenso processo de preparação regido pelo diretor Luiz Fernando Carvalho, no qual elenco e todas as equipes envolvidas na produção vivenciam o universo do romance de Milton Hatoum.

Além de leituras dramáticas e improvisações, encontros com historiadores, antropólogos, filósofos e o próprio Milton Hatoum, o diretor Luiz Fernando Carvalho concentra os atores em um processo de criação permanente, ministrando treinamentos que atravessam várias técnicas que promovem a criatividade e a unidade na interpretação, de tal modo que se torna impossível separar o mais experiente do menos experiente. Sob seu olhar, são todos um só.

“Esse processo não proporciona apenas reflexão e autocrítica aos intérpretes, mas, em especial, oferece coragem para que os atores se reinventem. O processo é para que eles se libertem, exercitem ao máximo sua imaginação, tornando-se atores criadores de seus próprios personagens”, detalha o diretor artístico.

UMA CIDADE SURGE NA FLORESTA

No pano de fundo do drama da família de Halim (Bruno Anacleto/ Antonio Calloni/ Antonio Fagundes), ‘Dois Irmãos’ repassa as transformações profundas sofridas por Manaus no período, entre as décadas de 1920 e 1980. As entrelinhas do romance são transformadas em imagens vívidas, que reforçam o realismo da obra. “O recorte é protagonizado por imigrantes libaneses, mas essa mesma história poderia estar sendo contada numa família de japoneses, espanóis, italianos ou portugeses, aqui e agora, em qualquer uma das culturas formadoras do nosso país. É a chegada de uma cultura de 8 mil anos, num país ainda criança como o nosso”,  observa Luiz Fernando Carvalho. Estamos falando sobre o florescimento dessa ancestralidade, de seu aroma que se espalhava ainda no início do século XX por Manaus, mas também sobre a derrubada dessa visualidade construída por meio de uma mistura onde a delicadeza e a força do belo tinham o seu lugar, uma mistura da belle époque e do Mediterrâneo com a cultura indígena amazônica”. O crescimento populacional desordenado, o surgimento e a extinção da cidade flutuante de Manaus, a presença do Exército durante o regime militar, o empobrecimento e a modernização repentina trazida pela Zona Franca reverberam na vida de Omar (Lorenzo Rocha/ Matheus Abreu/ Cauã Reymond)  e Yaqub (Enrico Rocha/ Matheus Abreu/ Cauã Reymond), que são testemunhas e símbolos de seu tempo. Engenheiro, calculista e espartano, Yaqub tem a firme decisão de viver em São Paulo. É filho que vai deixar Manaus em busca da personificação dos ideais desenvolvimentistas de ordem e progresso que tomam conta do país naquela época. Bon vivant que jamais consegue se firmar num trabalho, errante, passional e dionisíaco, Omar é o que ficará em Manaus e sofrerá as consequências da incapacidade de deixar de vez a casa, o útero de Zana. É o filho que não cresceu, o bebê que não cortou o cordão umbilical. Aquele que não se tornou homem e adulto. As memórias imaginadas por Milton Hatoum compõem o relato fragmentado de Nael (Rian Cesar/ Irandhir Santos), que vai, volta e dá saltos no tempo, e das conversas dele com Halim (Bruno Anacleto/ Antonio Calloni/ Antonio Fagundes) durante uma busca de barco por Omar (Lorenzo Rocha/ Matheus Abreu/ Cauã Reymond), pelas aguas do Rio Negro. Nessas visitas às décadas de 1920 a 1960, a equipe do diretor Luiz Fernando Carvalho fez uma busca por imagens da época em arquivos no Brasil e exterior, que reforçam o tom ao mesmo tempo memorialista e realista da obra. Entre elas, cenas do cotidiano de Manaus, como navios no Porto, o bonde, a Cidade Flutuante, desfiles de 7 de Setembro, a volta dos Pracinhas na Segunda Guerra, manifestações estudantis durante o período da ditadura militar. O material foi encontrado em acervos estrangeiros como os do Institut Nacional de l’Audiovisuel (França), Library of Congress (EUA), Huntley Film Archives (Inglaterra) e Chicago Film Archive (EUA), e brasileiros como Cinemateca Brasileira, Arquivo Nacional e Acervo Jean Manzon.

OS GAZAIS

 

 

Na Rua dos Barés, junto ao movimento do Porto de Manaus, o libanês Galib (Mounir Maasri) recebe libaneses, sírios e judeus marroquinos, no Biblos, restaurante montado no térreo de seu sobrado. Viúvo, vive ali com a filha, Zana (Gabriella Mustafá/ Juliana Paes/ Eliane Giardini), de 15 anos. Um dos frequentadores mais assíduos é Halim (Bruno Anacleto/ Antonio Calloni/ Antonio Fagundes). Embora a comida do lugar seja famosa entre os que transitam pelo porto, ele não é atraído pelo tempero raro de Galib, mas pela beleza da sua filha Zana. O mascate acompanha agitado e com interesse apaixonado os passos da gazela pelo salão. Zana circula pelo ambiente ruidoso com graça e entre sorrisos, equilibrando pratos de tucunarés e matrinxãs recheados com farofa e azeitonas. Não lança, entretanto, qualquer olhar especial ao admirador. Ele busca uma aproximação que parece improvável, mas que atiça, Halim se dedica à pescaria nos lagos da região para ofertar postas de surubim a Galib. Ganha, com isso, a simpatia do patrício. Mas não é o suficiente para conquistar Zana. Halim decide, então, comprar um chapéu francês elegante para ela, que pretende pagar em prestações, e se declarar. O amigo e poeta Abbas (Munir Kanaan/ Isaac Bardavid) tem um conselho melhor: um gazal – poemas ancestrais! “Sai mais barato. E certas palavras não saem de moda.” Poemas árabes de amor, versos ingênuos milenares e de rima simples são poderosos – lua com nua, amêndoa com tenda, amada com almofada. Mas sozinhos não fazem milagre. Halim deixa um envelope surrado embaixo de um prato do Biblos – não é algo capaz de chamar a atenção de Zana. Diante do resultado decepcionante, Abbas volta a intervir. “O coração de um tímido não conquista ninguém.” Num rompante de coragem exacerbada pelo vinho, em ânsia e transe, Halim declama os versos em árabe diante de Zana, Galib e todos os clientes do restaurante. Ao final, cochicha algo no ouvido da amada. Um olhar devorador, dócil e cheio de promessas. A jovem sente as palavras na carne. Abalada e arfante, tranca-se no quarto. Pensa. Sai de lá determinada e sentencia com a confiança de uma cartomante: “Vou me casar com esse Halim.”

O SOBRADO

A cristã se casa com o muçulmano e o jovem casal passa a viver no sobrado de Galib (Mounir Maasri). Uma exigência dela, a primeira de uma série de caprichos que Halim (Bruno Anacleto/ Antonio Calloni/ Antonio Fagundes) estará sempre disposto a atender. Tudo por Zana, sempre. Palco dos momentos felizes, dos amores e da tragédia dessa família, o casarão da Rua dos Barés se torna, ao longo dos dez capítulos, símbolo da passagem do tempo na minissérie. E o tempo é, ele mesmo, um forte personagem em ‘Dois Irmãos’. “Eu sei o livro praticamente de cor, e antes das filmagens descobria algo novo nele todos os dias. Portanto, foi de uma emoção absurda a primeira vez que pisei no sobrado, quando vi tudo aquilo que li se materializar”, lembra Eliane Giardini, que vive Zana na sua fase madura. A casa usada, interna e externamente, nas filmagens foi erguida nos Estúdios Globo com paredes de 50 centímetros de espessura, garantindo o tom realista,  conceituado pelo diretor artístico Luiz Fernando Carvalho. Numa homenagem ao mestre e amigo do diretor, Ariano Suassuna (1927-2014), sua fachada foi revestida com azulejos idênticos aos da casa onde viveu o célebre escritor, no Recife. “O sobrado é uma metáfora do país, do sistema ora patriarcal, ora matriarcal, das leis que regem os afetos e o poder, dos opressores versus oprimidos, da formação do Brasil,  da mistura do índio com o imigrante – está tudo ali. Esse caleidoscópio de afetos e cores está contando a história destes cruzamentos étnicos e estéticos que até hoje não pararam de se misturar. O restaurante Biblos é uma metáfora da gênese de como os povos se misturam em Manaus”, explica Luiz Fernando Carvalho. A casa de Zana (Bruno Anacleto/ Antonio Calloni/ Antonio Fagundes) e Halim (Bruno Anacleto/ Antonio Calloni/ Antonio Fagundes) fez parte de um conjunto de cerca de 30 edificações de influências francesa e inglesa, envelhecidas ao longo das filmagens pela equipe de pintura de arte e cenografia, um trabalho das cenógrafas Juliana Carneiro, Danielly Ramos, Mariana Villas-Bôas e Cláudio Duque e do produtores de arte Marco Cortez e Myrian Mendes, para representar a passagem dos anos, a força da memória, e o processo de deterioração de Manaus no período em que se desenvolve a história. Nos anos 1930, o casal tem filhos e vive seus melhores momentos, ainda entre os objetos de estética mediterrânea, como o espelho veneziano que Zana herdou de seu pai. Com o fim da Segunda Guerra, o mundo começa a se modernizar e os móveis e utensílios mais nobres da casa vão dando lugar a eletrodomésticos e peças produzidas em série, especialmente nas fábricas situadas em São Paulo, onde, no futuro, Yakub foi morar. No final dos anos 1960, quando o desgaste da família já é evidente, a melancolia aparece refletida no desgaste que toma conta das paredes, nos móveis antiquados e até no desbotamento da rede vermelha de Omar no alpendre. Louça kitsch, utensílios trincados e cada vez mais a presença do plástico parecem emoldurar a decadência e o desamparo dos personagens. Ao mesmo tempo, Manaus recebe sopros de uma modernidade forçada, trazidos pela criação da Zona Franca, em 1967. É quando começa um processo de descaracterização, que leva à arquitetura elementos como letreiros em neon, fiação elétrica desordenada e postes sem qualquer preocupação urbanística. No passar das décadas, no cenário de devastação do sobrado, reverberam a perda de identidade da cidade, a cisão da família e a violência do progresso em relação à floresta. Até que o drama atinja o grau máximo, e a descaracterização do lar seja de fato irreversível. “São seres humanos em sua tragédia cotidiana. Essa brasilidade que o Milton Hatoum apresenta no romance, que a Maria Camargo adaptou e o Luiz Fernando Carvalho incorporou é o falar da nossa aldeia, como disse Tolstói. É uma dramaturgia feita dos nossos pequenos sentimentos de paixão, desencontro, ódio. Essa vida toda que os personagens trazem faz a gente se entender melhor”, observa Antonio Fagundes.

PERFUMES E CORES DA AMAZÔNIA

Além das gravações na cidade cenográfica construída nos Estúdios Globo, a equipe passou 15 dias, entre janeiro e fevereiro de 2015, filmando externas em Manaus, na cidade de Itacoatiara e nas praias do Rio Negro. Dois caminhões contendo maquiagem, figurino e equipamentos chegaram de barco à Amazônia. Apesar de soar como uma superprodução, as gravações aconteceram quase em caráter documental. Com uma equipe reduzida e o mínimo de equipamentos possível, o diretor Luiz Fernando Carvalho partiu do essencial para captar o contraste entre os detalhes íntimos da relação de uma família e a exuberância que a própria natureza lhe oferecia. O registro naturalista exigiu a adaptação às condições climáticas imprevisíveis da floresta, com sol, chuva e calor. Para dar conta da temperatura elevada, uma embarcação foi equipada para servir como ponto de apoio da equipe. Nela, o elenco fazia as trocas de figurino e se alimentava com um cardápio elaborado a partir da culinária típica local: peixes de água doce como o tambaqui na brasa e farinha de uarini, por exemplo, fizeram sucesso. Além disso, mais de 40 quilos de frutas frescas e 30 litros de suco de graviola e cupuaçu eram servidos diariamente nos intervalos de gravação para amenizar o calor. Durante a estadia em Manaus, as margens do Rio Negro, o maior rio de águas escuras do mundo, eram percorridas diariamente. A equipe embarcava a partir do hotel nas lanchas voadeiras até as praias banhadas pelo Rio Negro, como a Praia do Iluminado e a Praia do Japonês. Na Praia do Japonês, a 50 minutos de Manaus, foi feita uma viagem a meados dos anos 1940, para representar a sequência em que Omar (Lorenzo Enrico/ Matheus Abreu/ Cauã Reymond) participa de uma competição de remo que envolve toda a cidade. Os hábitos da elite manauara, costumes e trajes de banho do período foram recriados pelo diretor. Na praia, barracas estilizadas, carros de época e bandeirolas conduziram ao tempo em que a selvagem Manaus, parecia querer – numa injusta adequação – se europeizar. A equipe da figurinista Thanara Schönardie desenvolveu peças similares às que desfilavam pelas praias mais badaladas da Europa naqueles tempos. Do período de gravações in loco, também merecem destaque as cenas captadas na Aldeia Tamoios. Os índios, entre homens, mulheres e crianças, realizaram um ritual festivo para a emocionante sequência em que a personagem Domingas (Sandra Paramirim/ Zahy/ Silvia Nobre) regressa às origens para apresentar sua cultura ao filho Nael (Theo Kalper/ Rian Cesar/ Irandhir Santos).

A REDE

 

Halim (Bruno Anacleto/ Antonio Calloni/ Antonio Fagundes) sempre foi claro: nunca quis ter filhos. É tão apaixonado por Zana (Gabriella Mustafá/ Juliana Paes/ Eliane Giardini) e feliz com os primeiros anos da vida conjugal, recheada de momentos de luxúria na rede montada junto à cama do casal e ainda por todos os cantos da casa, sem se preocupar com o voyerismo alheio, que teme a prole planejada pela mulher. Apegada aos valores familiares, em parte por ter perdido a mãe ainda criança, Zana entra em depressão com a morte do pai, Galib (Mounir Maasri). Quando Halim finalmente consegue pôr um sorriso em seu rosto e o casal volta a usar a rede, ela não perde tempo e pede filhos. “Pelo menos três”, exige. Halim cede, mais uma vez. E se arrepende. Depois do nascimento dos gêmeos Omar e Yaqub (Lorenzo e Enrico Rocha/ Matheus Abreu/ Cauã Reymond) e, alguns anos depois, de Rânia (Raphaela Miguel/ Letícia Almeida/ Bruna Caram), a rede não chega a ser desmontada, mas vai ficando de lado com o tempo, desbotando mudando conforme o desgaste emocional toma conta da família.

O NARRADOR

A narrativa de ‘Dois Irmãos’ acontece por meio da reconstrução da memória de Nael (Theo Kalper/ Rian Cesar/ Irandhir Santos), testemunha e personagem da história que se desenvolve no sobrado. Ele conta o que presenciou e o que soube de um e de outro, em especial de Halim (Bruno Anacleto/ Antonio Calloni/ Antonio Fagundes). Trata-se de uma busca pessoal, pela própria identidade, que ao mesmo tempo simboliza a miscigenação brasileira. Agregado, ele nasceu e cresceu no quarto dos fundos da casa, filho de Domingas (Sandra Paramirim/ Zahy/ Silvia Nobre). Menina índia que foi tirada de sua tribo, doutrinada e entregue a Zana (Gabriella Mustafá/ Juliana Paes/ Eliane Giardini) pelas freiras do convento para ajudar nas tarefas domésticas, ela é como um pássaro acostumado à falta de liberdade. Com o mundo limitado ao quintal, Domingas se divide entre a cozinha, onde desenvolve grande talento tanto na culinária manauara como na mediterrânea, e a criação dos gêmeos. É mais uma a se afetar pela desavença que move Omar e Yaqub, como as demais mulheres do sobrado, deixa-se encantar por ele. Nael sabe que um deles é seu pai, só não sabe qual. Quem será? Yakub? Omar?

A MÃE

 

A maternidade potencializa a personalidade de Zana (Gabriella Mustafá/ Juliana Paes/ Eliane Giardini). Como Halim (Bruno Anacleto/ Antonio Calloni/ Antonio Fagundes) temia, os filhos passam a ser sua maior motivação, em detrimento do casamento. Solar, ela é, cada vez mais, a figura que domina e segrega o espaço familiar. Seu excesso de amor é, de maneira contraditória, o que detona os conflitos que destruirão a família. Já na primeira gravidez, Zana dá à luz a dois dos três filhos que sonhara ter. Com certa dificuldade respiratória, Omar (Lorenzo Rocha/ Matheus Abreu/ Cauã Reymond) é o segundo a nascer e por isso apelidado de Caçula. Preocupada com a suposta fragilidade dele, Zana desenvolve um carinho desmedido, que a faz mimar um filho sem perceber que planta o rancor no coração do outro, Yaqub (Lorenzo Enrico/ Matheus Abreu/ Cauã Reymond). É apenas a primeira de uma série de escolhas que a mãe faz para diferenciar os filhos, embora goste de repetir, como numa espécie de autonegação, que eles são idênticos. Ao mesmo tempo, Rânia (Raphaela Miguel/ Letícia Almeida/ Bruna Caram) cresce à sombra da mãe, que não admite outra figura feminina a brilhar dentro da casa. Na adolescência, após perder um pretendente por causa do rigor de Zana, ela se torna uma figura lunar e para quem somente a mistura das personalidades de Omar e Yaqub poderia resultar no homem ideal. “Zana é uma mãe com todas as faculdades negativas e positivas que uma mãe pode ter. Mãe sente amor, ódio, ternura, carinho, afeto extremo e, ao mesmo tempo, repulsa. Todos esses sentimentos que muitas vezes as mães não admitem sentir, a Zana sente, sabe que sente e tenta lidar com esses sentimentos da maneira mais corajosa possível. Vejo a Zana como uma mulher de muita coragem, mas uma mãe que de fato sofreu por ter sentimentos tão diferentes por um filho e por outro”, observa Juliana Paes, que interpreta a personagem na sua fase adulta. Representação mais forte do feminino na trama, a personagem é vivida ainda por Gabriella Mustafá, na sua fase jovem, e Eliane Giardini, na sua fase madura. Nos iluminados anos 1920, os tempos do surgimento do amor, seu figurino privilegia os tons pastéis e branco, que evocam a história da família, a cultura árabe, o Mediterrâneo, a Belle Epoque, os sabores e os perfumes da Amazônia. Nos anos 1930 e 1940, já vivida por Juliana Paes, a personagem ganha um guarda-roupa de tons mais contrastantes e peças ajustadas ao corpo, evidenciando sua sensualidade. Ao contrário das mulheres da Manaus daquela época, que costumavam se esconder do sol debaixo de sombrinhas afrancesadas, Zana parece mais adaptada ao clima local e a morenice é mais um símbolo de sua força. A cada evolução do tempo, as cores ficam mais intensas. Por volta dos anos 1960, agora interpretada por Eliane Giardini, Zana passa a usar verde musgo e vinho. E a partir da morte de Halim (Bruno Anacleto/ Antonio Calloni/ Antonio Fagundes), Zana se vestirá somente de preto. Para alcançar uma unidade entre a aparência das três atrizes, a equipe de caracterização da minissérie, liderada por Rubens Libório, desenvolveu uma rigorosa pesquisa acompanhada de perto pelo olhar de Luiz Fernando Carvalho, que primou pelo realismo, sempre a serviço da marcação da passagem de tempo. Eliane Giardini (Zana) usou próteses de látex e maquiagem especial para mostrar as marcas da idade na beleza da matriarca da família. Para deixar as três Zanas (Gabriella Mustafá, Juliana Paes e Eliane Giardini) parecidas, alguns recursos de caracterização foram utilizados como a cor do cabelo, o penteado que mantém a franja e o arqueado das sobrancelhas. “É incrível quando você atua em sagas que atravessam décadas e divide personagem com outros atores. Você fica tentando se ver nos colegas. Gabriella, Juliana e eu fomos pelo temperamento da Zana. Ela é um mar de afeto, é figadal. É uma personagem com muita potência emocional e muita potência de ação, cega pelas emoções”, observa Eliane Giardini. “Ela é uma mulher sem mãe. Tudo o que ela queria fazer quando se casou era formar uma família e se transformar na mãe que ela mesma não conheceu.”

O PAI

Imigrante libanês que chegou ainda menino a Manaus, a reboque de um tio que depois o abandonou num quarto de pensão, Halim (Bruno Anacleto/ Antonio Calloni/ Antonio Fagundes) encontra a grande felicidade quando consegue conquistar a bela Zana (Gabriella Mustafá/ Juliana Paes/ Eliane Giardini). Em pouco tempo, Halim se torna dono de um pequeno comércio de secos e molhados. Com bons amigos sempre dispostos a sessões de gamão regadas a doses de arak, ele passaria o futuro com Zana no sobrado. Viveriam sozinhos e apaixonados, sem filhos que pudessem atrapalhar a felicidade conjugal que costuma tomar a rede montada ao lado da cama do casal. O medo da chegada prole se confirma. Ele sente e lamenta, desde o primeiro momento, a mudança da mulher depois do nascimento dos gêmeos, diferenciados por ela desde o primeiro suspiro. Poucos anos depois, nasce Rânia (Raphaela Miguel/ Letícia Almeida/ Bruna Caram), e com ela mais um problema – a concorrência entre as duas figuras femininas na casa. De certa forma, a menina se torna mais próxima do pai, demonstrando ter talento para os negócios. Os dois são coadjuvantes no próprio lar. Ao longo dos anos, a caracterização do personagem tem poucas alterações, o que simboliza sua personalidade horizontal. Predominam peças de linho em tons claros, em cortes simples, usadas de maneira despojada por um homem de alma leve sob o calor sufocante de Manaus. “Curioso, porque eu penso no personagem e vejo um único Halim. Não vejo o Bruno, eu ou o Fagundes, mas um só homem”, conta Antonio Calloni, que vive o personagem na sua fase adulta. Em desalinho e sem voz diante da família que ele mesmo formou, Halim nunca desenvolve intimidade com os filhos. Ele sente ciúme da dedicação da esposa a Omar e se preocupa com as consequências do desprezo dela por Yaqub. Não tem força, entretanto, para enfrentar a personalidade forte de Zana. Sem freio e desesperada diante da briga entre os filhos, ela desenvolve uma verdadeira obsessão por Omar. Por causa desse amor cego, desmedido, Halim é posto de lado. Resignado, passa os dias pitando o narguilé em sessões de gamão com os velhos amigos Abbas (Munir Kanaan) e Cid Tannus (Sammer Othman/ Jitman Vibranovsky) até que a melancolia venha lhe consumir por completo.

UMA SESSÃO DE CINEMATÓGRAFO

Até a adolescência, os irmãos se vestem iguais, uma tentativa de Zana (Gabriella Mustafá/ Juliana Paes/ Eliane Giardini) de reafirmar uma proximidade inexistente entre os filhos. A diferença residia na forma como se apresentavam: Yaqub (Enrico Rocha/ Matheus Abreu/ Cauã Reymond) sempre aprumado, com a camisa devidamente dentro da calça; Omar (Lorenzo Rocha/ Matheus Abreu/ Cauã Reymond) sempre displicente, de peito aberto e espontâneo. Mas, mais do que as diferenças entre eles, a deturpação do afeto da mãe é um catalisador da tragédia. Na primeira infância, a disputa pela atenção de Zana é permanente, mas Omar sempre vence. Yaqub sente inveja da coragem do irmão diante de desafios infantis, como subir nas árvores do quintal, e se agarra à barra da saia de Domingas (Sandra Paramirim/ Zahy/ Silvia Nobre), que deu a ele o afeto negado. A relação dele com Zana se torna cada vez mais tensa, um filho arredio ao toque da própria mãe. Omar, ao contrário, sabe conquistá-la com notável facilidade. Ao invés de apaziguar, o tempo só alimenta a gangorra emocional que se estabelece entre os gêmeos. Na adolescência, mais uma figura feminina se interpõe entre eles: Lívia (Monique Bourscheid/ Bárbara Evans). Recém-chegada da França para uma estadia na casa dos tios, os vizinhos Estelita (Maria Fernanda Cândido/ Carmem Verônica) e Abelardo (Emilio Orcciolo Netto/ Ary Fontoura), a bela garota desperta o interesse dos dois irmãos – e parece até se divertir com o poder de sedução. Quando se inicia a disputa por ela, num baile de carnaval, Zana manda Yaqub levar Rânia (Raphaela Miguel/ Letícia Almeida/ Bruna Caram) em casa. A atitude favorece Omar, que pode continuar na folia e se aproximar de Lívia. Yaqub passa a noite insone, remoendo a derrota. Mas logo tem a oportunidade de dar o troco no irmão. Numa noite, uma sessão de cinematógrafo na casa de Estelita e Abelardo promete momentos de diversão. Mas a ficção cômica projetada dá lugar à exposição pública da tensão que existe há anos entre os irmãos. No fim da tarde, os ventos da floresta são intensos e trazem a chuva que, impiedosamente, causa uma queda brusca na energia elétrica. Quando as luzes se acendem, os lábios de Lívia e Yaqub estão colados. Omar é tomado pelo ódio, quebra uma garrafa e corta o rosto do irmão. Os gêmeos são, enfim, diferenciados. Agora Yaqub está marcado por uma cicatriz. A reconciliação – o maior sonho de Zana – jamais acontecerá.

A VIAGEM AO LÍBANO

Em meio às dificuldades da Segunda Guerra Mundial, cujos ecos chegam ao quase isolamento da floresta, e ao medo de que uma tragédia tome conta de sua família, Halim (Bruno Anacleto/ Antonio Calloni/ Antonio Fagundes) decide mandar os filhos para sua terra natal, no sul do Líbano. Teme as consequências de brigas mais violentas entre eles. Zana (Gabriella Mustafá/ Juliana Paes/ Eliane Giardini) se mostra relutante até o último segundo, quando solta a mão de Yaqub, mas não consegue se desprender de Omar. A escolha é mais forte do que ela. “Passei parte do processo tentando entender por que ela deixou um dos filhos ir embora. Durante as filmagens, li um trecho do romance que dizia ‘por algum motivo que ela nunca soube ou não quis explicar’. Esse não querer explicar é a Zana. Uma mulher consciente de que não se pode explicar os sentimentos que uma mãe tem. Ela, de fato, teve uma predileção. Nunca quis explicar, mas tinha um amor especial ou uma atração que não se explica por Omar. Existe algo na relação entre mãe e filho que é um mistério”, pontua Juliana Paes. Sem olhar para trás e ciente da escolha da mãe, Yaqub viaja sozinho. Os anos que passará longe da família e da única paisagem que conhece reforçam questões existenciais e o modificam de maneira irreversível. Zana e os demais integrantes do sobrado não podem imaginar o quanto. A volta dele, vestindo roupas surradas e trazendo apenas alguns figos mofados, terá consequências inimagináveis.

Escrita por Maria Camargo e com direção artística de Luiz Fernando Carvalho, a obra estreia com dez capítulos nesta segunda-feira, dia 9 de janeiro na Globo, e seus capítulos estarão disponíveis antes pelo Globoplay.

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